É, o senhor mesmo. Vamos levar um papo? Legal. Senta aqui. Há muito tempo que eu queria ter esta conversa com o senhor e a oportunidade é ótima. É sobre este negócio de a todo o momento se posicionar a respeito da sexualidade das pessoas. Sabe, padre. Desculpe-me a franqueza, mas acho que talvez ainda não lhe tenha caído a ficha. Logo, eu vou ser direto e reto. Está preparado? Então vamos lá:
AS PESSOAS JAMAIS VÃO PARAR DE TRANSAR!
É isso, padre. Tome isso como uma verdade definitiva. Não deveria ser assim mas é tão certo quanto o sol vai se pôr. Qualquer conduta sua e da Igreja Católica a partir de agora deve ter isso em mente. Até porque a coisa é boa mesmo, padre. Não sei se o senhor entende muito disso, mas quem prova não larga mais. Quer nadar contra a corrente recomendando abstinência, tabelinha dentre outras coisas? Vai fundo. Mas saiba que vai pregar no deserto. Ninguém vai ligar a mínima.
No carnaval, seu padre, isso toma uma proporção “caligular”. Como cães, a galera trepa na rua, na chuva, na fazenda ou – menos freqüentemente – numa casinha de sapê. Quando isso começou? Ah, meu caro pároco. Isso dá uma discussão para mais de metro. Mas se quiser um bom ponto de partida, comece pelas novelas brasileiras na sua sanha de angariar audiência. Elas mostram tudo ao contrário daquilo que você ensina aos filhos. Acho que é por aí.
(...)
Vou relembrar, padre: AS PESSOAS JAMAIS VÃO PARAR DE TRANSAR! O fornecimento da pílula do dia seguinte não se trata de uma medida de limitação de danos, mas sim de prevenção de danos, assim como também são a camisinha, a pílula anticoncepcional dentre outras. E não é qualquer dano, padre. Trata-se de impedir que venha ao mundo mais um miserável fruto da irresponsabilidade das pessoas que anteriormente já a demonstraram em inúmeros momentos da história “destipaiz”. Captou a mensagem ou preciso desenhar, seu padre?
Eu não entendo, padre, por que raios a Igreja católica vira as costas para os métodos contraceptivos. De novo, padre: AS PESSOAS JAMAIS VÃO PARAR DE TRANSAR! Logo, tabelinha e abstinência são, quando muito, motivos de chacota.
(...) A igreja católica muito poderia ajudar nesta missão [de controle de natalidade]. A não ser que exista um interesse deliberado na proliferação de miseráveis sujeitos à tutela. (...) Será que é isso, seu padre?
Foi ótima a conversa. Eu sei que tudo o que muito do que eu disse já era do seu conhecimento. Porém uma reflexão sobre as realidades brasileiras é sempre positiva. Talvez os dogmas seculares proporcionem uma cegueira que impeçam a Igreja Católica de se reinventar. É que o mesmo conservadorismo ao qual a Igreja se apega para se preservar, é o mesmo que acaba por desconsiderá-la. É uma pena.
(Publicado no Blog do Serjão dia 27 de janeiro de 2008. Faço minhas as palavras dele; sem radicalismos e reacionismos, por favor.)
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