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terça-feira, 21 de maio de 2013

Abre a porta, UFMG!


Saiu no Estado de Minas reportagem sobre uma situação peculiar na UFMG:

O acesso à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ficará mais rigoroso até o fim do ano. Pela primeira vez haverá controle, 24 horas por dia, das 22 mil entradas e saídas diárias de veículos do câmpus Pampulha. A previsão é de que em novembro esteja funcionando sistema por meio do qual o motorista será obrigado a se identificar na portaria para ter a entrada liberada. A medida faz parte do Plano Diretor de Segurança Universitária, em implantação há três anos, e coincide com o momento em que são estudadas providências para coibir episódios como o do fim de semana, quando bandidos entraram na Escola de Engenharia para arrombar um caixa eletrônico e fizeram reféns. Uma das atitudes possíveis é decretar o fim dos caixas eletrônicos instalados pelo câmpus. 

(Alguém avisa ao pessoal do Estado de Minas que campus não se acentua?)
(UPDATE: me informaram que, ao que parece, há as duas formas. Mas é tão estranho isso...)

Há que se notar uma coisa nessa notícia. O assalto aconteceu em um fim de semana, quando o acesso ao campus Pampulha já é restrito. Depois do meio dia, é praticamente difícil você adentrar à universidade - somente o portão 1, o principal, na Av. Antônio Carlos, fica aberto; os demais, ficam fechados. Se o arrombamento foi no fim de semana, então foi num momento onde há uma restrição de acesso ao campus. Então, não entendo essa medida de catracar a entrada dos carros durante a semana.

A diretoria da Universidade observa que a solução para acabar com os arrombamentos aos caixas é tirar os caixas eletrônicos das faculdades. É matar o boi para se livrar dos carrapatos.

A UFMG vai dando cada vez mais passos rumo à segregação. Acontece um episódio de violência no campus, a medida é proibir a circulação. Nos fins de semana, em vez de promover a integração, abrindo o campus e realizando atividades diversas, fecha-se as portas e veta-se o acesso (está mais que explicado porque grande parte da população não sabe o que tem lá dentro; a própria UFMG se esconde).

Tá, mas então vamos falar de violência. Por outro lado, até hoje não tive notícias da comissão que está apurando o trote nazi-racista ocorrido no prédio do Direito, que é fora do campus. A agilidade é meio relativa quando se fala em violação de direitos. O que será feito com os estudantes que promoveram uma série de violações contra calouros durante um trote ocorrido em março? Já se sabe qual será a punição dos agressores? Não? Ah, OK.

(UPDATE 2: a UFMG encaminhou relatório sobre o trote racista. Nossa, dois meses sem ter notícia... Para mim, o pessoal tinha até esquecido disso.)

Mas, no caso de uma infração ao patrimônio material da instituição, coloca-se câmeras; coloca-se catracas nas faculdades; coloca-se cancelas nas entradas; coloca-se uma política de afastamento. Sim, afastamento. Quem não é vinculado à Universidade que se afaste. Que não chegue perto, vai que esse bicho morde.

A UFMG morde. Pesado. Mas só morde quando existe um conflito em relação aos seus interesses. Só age quando existe um flagrante delito em relação ao seu patrimônio, aos seus bens. Como uma velha dona da Classe Média que exige que a mão do seu assaltante seja decepada.

Na época que era universitário, o atual reitor era candidato. E vejo o quão decepcionante é ver uma pessoa na qual você depositou um voto e simplesmente apunhalá-la pelas costas. A UFMG merece mais do que isso. Merece ser aberta à comunidade, não mais se voltar apenas a si mesmo. Seremos, se continuarmos assim, um bando de iluminados que não iluminam ninguém fora do espaço institucional. Já passou do tempo de a UFMG promover, como universidade, um acesso universal ao seu espaço, ao seu interior. Pois quando mais ela se fechar, mais ela vai afastar quem realmente necessita do seu espaço, do seu conforto. Dentro do campus, são poucos os lugares onde há a promoção de uma cultura de trocas e socializações.

Tomara, um dia, que Clélio Campolina (reitor em quem votei na época da eleição e que me arrependo amargamente de ter ajudado a ir para a Reitoria) repense essas atitudes. Se não for ele a pessoa que repensará a UFMG, que venha o próximo.