Páginas

sábado, 8 de março de 2014

Para onde Beagá se MOVE? - parte dois: a inauguração



Então vamos lá. Hoje, 8 de março, é o dia que o MOVE entrou em operação em BH. Como vocês podem ver pelas fotos, a Estação São Gabriel - a primeira a operar o sistema, as outras vão entrar em operação a partir de abril - está prontinha, prontinha, com toda a estrutura feita para receber os passageiros da Região Norte que queiram se deslocar para o Centro, para a Savassi ou para os Hospitais. Sim, porque está previsto, da São Gabriel, saírem ônibus do MOVE apenas para essas três regiões.









Enquanto eu procurava a plataforma para embarcar no ônibus parador (83P), um moço mais velho me interpelou. "Tá bonito isso daqui, né, rapaz?" Eu fui sincero: "Não achei não, moço. Num tá pronto ainda.." Ao que ele me replicou: "Pois é, né, mas tinha que inaugurar antes mesmo, o prefeito não pode inaugurar na eleição". Boa pontuação do seu moço.

Me dirijo então à plataforma do 83P e todo do ônibus. No interior, a Alterosa filmava a operação do motorista e os passageiros (Mãe, vou aparecer no SBT!). Ao meu lado, sentou um moço que é um dos guias da BHTRANS que têm por função orientar os passageiros. Perrguntei se havia um quadro de horários disponível para que pudéssemos ver os horários de partida. "Bom, nesse daqui ainda não tem, mas nos outros deve ter". Deve ter. Fiquei pensando nisso: nem quadro de horário tinha no coletivo e o ônibus já estava em plena rodagem.

Ao meu outro lado, tinha um estagiário da Prefeitura. Fiquei curioso, porque vi que o interior do MOVE é bem menor que os antigos carros articulados que as linhas de Venda NOva - 61, 62 e 64 - tinham antigamente. Perguntei quantos passageiros cabiam sentados. "Olha, no total cabem 130". "Sim, mas sentados cabem quantos?" "Ah, cabem uns quarenta passageiros sentados". Tive que me conter porque um busão daquele tamanho comportar somente 40 pessoas sentadas é muita pachorra para pouca competência. Então quer dizer que, no MOVE, dois terços das pessoas que o tomarem (num total de 130) viajarão em pé. Isso é conforto, Brasil?

Bom, é primeiro dia, né? Vamos ver como o barco anda.

sexta-feira, 7 de março de 2014

E para onde Beagá se MOVE?

É essa a pergunta que faço diante do falacioso mito do BRT-MOVE como salvação do transporte urbano em Belo Horizonte.

Há vários aspectos que eu poderia pegar aqui e discorrer sobre, mas vou me ater a um em especial que me deixou deveras incomodado: o fato de o princípio de funcionamento do MOVE não ser nada inédito.

A BHTRANS divulgou que o Move irá funcionar como ligação entre as estações-integração e as regiões Central e Hospitalar. No sábado, dia 8, três linhas começam a roda a partir da Estação São Gabriel - 83 Paradora, 83 Direta (que vão até o Centro) e 82 (que vai para os Hospitais).

Se você pegar o mapa de funcionamento do Move, vai ver claramente uma coisa: ele é unidirecional - só liga a estação-integração a uma região. O sistema não permite que haja comunicação inter-regional para além do que está proposto - quer um exemplo? Até agora eu não vi previsão de interligação entre estações-integração - entre São Gabriel e Pampulha, entre Pampulha e Vilarinho, entre Vilarinho e São Gabriel. E o que mais grita nos meus olhos: esse tipo de sistema já existe em Belo Horizonte desde a implementação das Estações BHBUS. Se você (diferentemente dos gestores e do presidente da BHTRANS, sr. Ramon César) anda de ônibus pela cidade, vai perceber uma grande semelhança entre o MOVE e o sistema atual vigente de conexão entre as BHBUS e as demais regiões da cidade.

O que 83P, 83D e 82 vão fazer, 61, 62, 63 e 64, na Estação Venda Nova, já fazem; 32, 33, 34 e 35, na Estação Barreiro, já fazem; 30, 3050, 3052 na Estação Diamante já fazem. A única coisa diferente é que os ônibus são articulados e possuem estações de transferência ao longo do caminho, em substituição aos tradicionais - porém não superados - pontos de ônibus.

Tem uma coisa diferente, sim: o MOVE custa 46 milhões de reais por metro.

E o doido do Márcio Lacerda já está pensando em expandir o sistema - que tem tudo para falhar. Porque é a reprodução pura e simples de algo que já existe, não é uma novidade. Lembro-me de 1998, quando houve a grande última mudança geral no transporte da cidade - com a criação das Linhas Perimetrais (de final 50 e de cor alaranjada), das Linhas Circulares/Alimentadoras regionais (de três números e amarelas) e com a mudança em grande parte da numeração das linhas antigas. Com três meses de antecedência, a BHTRANS teve a preocupação de mobilizar TODA A CIDADE para a grande mudança que ia acontecer.

Talvez seja esse o motivo de a BHTRANS e o SETRA, sindicato das empresas de ônibus, não terem se preocupado em comunicar com a cidade sobre o MOVE - ele não é nenhuma novidade mesmo...