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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Não sabem do lixo ocidental

Não me podia ter acontecido coisa melhor.

Ligar o rádio e a música que toca no exato momento é "Para Lennon e McCartney". Uma das mais fodas do Milton. A que mais me toca o coração - mesmo não sendo a favorita.

Fiquei pensando no ano de 2010. Um ano como jornalista formado. Um ano coordenando o Conexão Periférica. O ano que, pela primeira vez, saí de Minas - visitei São Paulo, em maio, na Virada. Um ano que voltei a me dedicar ao espírito e à Espiritualidade. Um ano, como todos os outros, com seus lados bons e ruins. De coisas rotineiras e outras imprevisíveis.

O balanço geral de 2010 é positivo. Que venha 2011. Não precisa medo, não...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Limpem os ouvidos e lavem as orelhas. Telecatch no ar.

Cheguei há pouco do Forumdoc.bh. Evento bacana que há 13 anos reúne filmes voltados para a temática antropológica e documental. Bacana, mesmo.

Mas mais bacana ainda foram dois filmes que eu vi. Um deles fala da importância do diagnóstico de surdez nas crianças até 5 anos, para que esse quadro patológico possa ser revertido. Chama-se "Les Enfants Du Silence" (As crianças do silêncio, em tradução livre) e é bem tocante. Eu não havia, até então, me atentado para a importância da audição para a percepção de mundo por parte de uma criança. E foi bem interessante a forma como Michel Brault coloca isso na película. É um filme em P&B, datado de 1961.

O outro é mais cômico, explorando um pouco a mistura de humor, sarcasmo e ironia. Quem aqui se lembra de Campeões do Ringue, programa que passava nas manhãs de domingo na Rede Record?

Era divertido, não? Campeões do Ringue era uma herança do famoso Telecatch:

programa de televisão criado na extinta TV Excelsior do Rio Canal 2, dedicado à exibição de combates de luta livre que combinavam encenação teatral, combate e circo. Durante a década de 1960 alcançou o auge do sucesso, com a presença do herói Ted Boy Marino.Inicialmente chamado Telecatch Vulcan (TV Excelsior - 1964 a 1966), devido ao patrocinador, posteriormente passou a ser denominado Telecatch Montila (TV Globo - 1967 a 1969) e finalmente como Os Reis do Ringue (TV Record) nos anos setenta.

Brigas forjadas que eu sinceramente achava verdadeiras. Com oito ou nove anos de idade, tem-se a tendência de se acreditar em tudo - inclusive, no acidente de avião que matou a turma do Chaves... Mas faz parte da brincadeira. "La Lutte" (1961), também de M. Brault, mostra um pouco desse universo do Wrestling no Canadá. É divertido, em altas partes eu ria e me lembrava das palhaçadas das manhãs de domingo.

Dois filmes curtos (média de 25') que me chamaram a atenção para uma coisa: são simples na linguagem, diretos e efetivos. O cinema me surpreende tem hora...

domingo, 24 de outubro de 2010

Zé Celso. CACILDA!!

Talvez hoje, 23/24 de outubro de 2010, eu tenha entendido o sentido da frase que utilizo aqui no blog, letra de João Ricardo (Secos & Molhados).

Depois de uma pequena grande polêmica envolvendo a Fundação Municipal de Cultura (mais exatamente à Thaís Pimentel, sua presidente), este órgão da Prefeitura de Belo Horizonte resolveu trazer Zé Celso Martinez e seu projeto de circulação Dionisíacas 2010. Já haviam me falado do Zé Celso - aliás, a primeira vez que eu ouvi falar dele foi por meio da boca de Glauber Rocha, outro louco nada febril.

Todas as pessoas com quem conversava referendava o trabalho do Zé Celso. Esse cara fez história - googleia aí, tô com preguiça de pôr link, e já é demasiado tarde. Pois bem, a Fundação resolveu trazer o Zé Celso e o instalou em uma arena na... Barragem Santa Lúcia, de frente para o Morro do Papagaio!

Inusitado? No mínimo. Mas foi uma atitude muito acertada. Não é teatro burguês - por mais difícil que lhe seja a compreensão. Por isso, a aproximação com a favela e a sua gratuidade na entrada. Cheguei 17h40 para a peça que ia começar às 18h. Deu uns 40 minutos de atraso, mas é coisa superada. A peça que eu vi é CACILDA!!, em justa e honrosa homenagem à grande atriz do teatro e da Atlântida Cacilda Becker. Só que a maneira como o Zé Celso faz é, no mínimo, antropofágica na sua essência. 

Em meio à encenação musical - parêntesis: eu detesto musicais à lá Broadway, acho tosco; mas essa apresentação da trupe do Zé Celso foi um musical, mas muito diferente do estereótipo -, via-se a exploração de ironias e sarcasmos, a nudez como linguagem/metáfora, flores que despetalam, orgia, vermelho, ideologia cristã e uma aforia ao Teatro Brazyleiro. Uma loucura.

Não, não intuo resenhar sobre CACILDA!!, é impossível de se fazer tal tipo de coisa. Palavras limitam, cerceam, chegam às vezes a tolher. É melhor que se sinta, que se experimente, que se veja e que seja visto - há muito dessa interação em cena, o público não é meramente passivo e consumidor, mas é um elemento a mais da peça e pode influenciar - ainda que minimamente - na história.

CACILDA!! é amor, paixão, lascívia, desejo, necessidade, vontade, necessidade, desejo, necessidade, vontade, necessidade. Por meio dessa peça sente-se a volúpia humana como condutora de suas atitudes. É mais do que isso, apenas. É uma sensação que, ao mesmo tempo que é pesada (sugam-se as energias da plateia até esta ficar exaurida), é um misto de alívio com condenscendência. 

Agora entendo porque Zé Celso é cultuado. Não se faz um trabalho desse à toa - é de se ficar estático, incomodado, mas interessado com tudo. Ele choca, provoca, insinua e xinga. Vomita diretrizes. Provoca o despertar de inconscientes e subconscientes coletivos adormecidos. Estimula a criticidade. Faz rir, pensar, chorar e, no final de tudo, aplaudir tudo de pé. Porque, caso de CACILDA!!, encena-se a biografia de alguém importante, relevante, para a nossa Cultura Brazyleira. Por que não levar esse culto a cada pessoa? Por que não devotar um pouco da nossa devoção para com as estrelas para os nossos entes mais próximos? Faz-me pensar o quanto valorizamos uma pessoa e a sua relação com o quanto ela quer ser valorizada. É sempre mais, uma tarefa contínua, árdua e que não pode ser egoística, egoica.

Bom, do alto da madrugada, sinto que não sou mais o mesmo. Já não sou desde que descobri Mutantes, Miguel de Deus, Teatro do Oprimido e, agora, Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona. São coisas que se somam, que contribuem para que eu me demova da estaticidade, que eu prefira a instabilidade emocionante à tranquilidade paquiderme. Sou carnívoro, mas não sou agressivo. Gosto de carne, de alma, de gente, de pessoas, de valores e de convivências. De experiências, de sentimentos. E não se pode sentir isso vendo apenas algumas peças fracas e risíveis da campanha de popularização do teatro, ou apenas ouvindo o que há no mainstream. Leia-se, por favor, que não sou contra a isso, mas me oponho à conduta de se ater apenas a isso - como sou contra também ser somente alternativo. Alternativo a quê?

Chega, então. Extasiado com todo esse sentimento que me corre nas veias, vou descansar. Mas não paro, não me canso. Me lembra uma música do Marcos Valle, Garra: "Mas eu vou vencer  / Se eu não morrer". Só vou morrer mesmo se eu me sentir estático. Enquanto houver célula respirante, aqui haverá um Bruno que não sabe, primeiro, o que é estabilidade e, segundo, que deseja a mudança não apenas por mudar, mas que a deseja como um valor que seja constantemente construído - interna e externamente.

Obrigado, Zé Celso, pela expetacular esperienzia de te ver num Teatro de Extádio. Socorram-me se um dia eu enloquecer de vez, mas me deixem, ainda assim, louco. Extasiado. Emocionado. Enfim.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Uma dica a quem gosta de um documentário

Galera,

Aos que gostam de um documentário, achei um blog bem bacana, com vários documentários disponíveis para download:

http://docverdade.blogspot.com/

Mande sugestões: o blog procura por documentários que lutem contra todos os tipos de injustiça social - trabalho infantil, meio ambiente, exploração econômica, entre outros. As sugestões (se possível com os links de download) devem ser enviados para docverdade@gmail.com

Tem trocentos docs disponíveis para você baixar. Passem adiante.



Se eu der conta, vou comentar um a cada 15 dias. SE eu der conta - que era para eu fazer com um álbum e não tô conseguindo, que dirá com um longa metragem.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Não adianta

Todos nós temos expectativas sobre os outros. E é lógico que isso vai acontecer comigo. Por mais que eu espere algo de alguém, eu posso às vezes não ser correspondido, tampouco compreendido.

Se você se sente decepcionado pelo meu modo de vida, desculpe. Não vou dizer que meu comportamento é imutável, mas que minha essência permanecerá a mesma. Sou duro, frio, não consigo me envolver demais e tenho esse tipo de dificuldade em me relacionar. Se você quer se aventurar, venha preparado para enfrentar pedregosa estrada.

Fui criado assim, em um lar cuja correspondência paterna era algo, digamos, insensível - no sentido de expor as emoções. Duro feito rocha, nunca dava o braço a torcer, sempre quis impor as suas opiniões (olha que tolice...). E eu, como "rebanho", fui automatizado a isso. E não serão com quatro dias ou quatro anos que eu vou mudar meu temperamento.

Posso afirmar que os meus atuais amigos remontam à época do Colégio. Detalhe: eu os conheci em 1998 e somente de cinco anos para cá é que estabeleci uma coisa mais densa, mais profunda, mais sincera comigo mesmo. Que dirá em algo que "acabou de começar".

Pode você alegar que falta preparo em mim para navegar em águas profundas. Sempre tive medo de piscina, e não é de uma hora para outra que as coisas mudam. Nem com o tempo que for, mas eu tenho ciência disso. O primeiro passo para um viciado é reconhecer o seu vício.


E... Bom... Talvez eu esteja reflexivo demais por causa de Dexter e Quero Ser John Malkovich.


Paulinho da Viola sabiamente diz uma coisa que fala sobre mim, na música "Meu Tempo é Hoje" - salvo engano, composição do Wilson Batista.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Dia Mundial do Rock

Hoje são 13 de julho. Uma data importante para os amantes de música - é Dia Mundial do Rock.

Eu, que sou um fã inconteste desse ritmo, não poderia deixar esse dia de hoje passar em branco.

Minha relação com o Rock começou aos oito, nove anos de idade. Lembro-me de um vinil (que até hoje tem lá em casa), com hits nacionais chamado OverDoze, com 12 faixas do Rock que rolava nos anos 1980 - descobri recentemente que o disco é do mesmo ano que nasci, 1986. Daí o fato de eu ter uma relação muito próxima com o rock.

Nesse disco, tem algumas faixas que eu ouvia incessantemente, e que até hoje canto a plenos pulmões. A primeira, "Núcleo Base", do IRA!, me mostrou que existia música além dos temas de novela e dos Românticos de Cuba - os vinis que mais eram (são, ainda) numerosos em casa; não digo que são ruins, tem uns excelentes (o de Dancin' Days Internacional, por exemplo), mas é porque o rock, enquanto eu ainda era criança, era-me uma coisa meio obscura, proibida, "só de gente grande". E vira-e-mexe eu ouvia, escondido, esse disco em casa.

"Núcleo Base" foi um dos primeiros rock's que decorei. O outro chama-se "Eu Não Matei Joana D'Arc", do Camisa de Vênus, então banda do despirocado Marcelo Nova. Ali eu percebi o que era ser lunático; porra, eu conhecia por alto a história de Joana D'Arc (vergonha: sabia mais àquela época do que sei hoje...) e sabia que o cantor - não exatamente o cantor, mas o idealizador da letra - era um paranoico. Um maluco, que eu imaginava num manicômio desvairando sandices sobre nunca ter tido nada, nada, nada com Joana D'Arc. E eu gostava daquela história, daquela mistura de pantomima com realidade lisérgica. É, inclusive, a minha música preferida do vinil hoje. (Em tempos passados, era Marylou, do Ultraje a Rigor.)




Foi ouvindo incessantemente, freneticamente e viajadamente que eu falei: eu também gosto de rock'n roll. E, a partir do "assassinato" de Joana, fui desbravando outros mundos, outras bandas. Uma delas, Titãs, via seu álbum Acústico MTV. Sensacional ouvi-lo aos 13 ou 14 anos. Depois, veio o Legião Urbana - ame-o ou o odeie, é parada obrigatória em se tratando de rock brasileiro. Depois vieram os internacionais, como Creed (tá, sei... Calma...), Silverchair, Pearl Jam, o próprio Elvis, Beatles, entre outros tantos.

Hoje, graças a toda essa bagagem musical (iniciada pelo meu pai, no berço, literalmente), eu homenageio com louvor esse ritmo originalmente negro, dançante e fantástico que é o Rock and Roll. Branco, se você hoje é roqueiro, agradeça aos meus antepassados, blz?

Tá pensando, então, que vou colocar Beatles pra tocar? Sonhe com isso à noite. A minha vertente hoje é a Psicodelia. Em alusão ao Treze de Julho, vamos de Jimi Hendrix, executando Like a Rolling Stone (do igualmente foda Bob Dylan). Let's Rock!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Álbum da Semana: Curtis Mayfield - Superfly

Alguém aí sabe o que é Blaxploitaition?

Segundo a Wikipedia,

Blaxploitation foi um movimento cinematográfico norte-americano no início da década de 1970. A palavra é um portmanteau de black e explotaition. Blaxplotaitaiton foram os primeiros filmes a usarem soul e funk em suas trilhas sonoras. Tinha como protagonistas atores negros e eram destinados especialmente para este tipo de público. Alguns dos principais artistas deste gênero foram Curtis Mayfield, Pam Grier, Isaac Hayes e James Brown.

Bom, e é exatamente da trilha sonora de um filme desse gênero que vou falar.

Superfly é um filme violento e polêmico que foi proibido pelo governo militar brasileiro, e estranhamente nunca foi exibido por aqui, sendo inédito ainda mesmo em vídeo. A trilha sonora de Curtis Mayfield é considerado seu melhor trabalho, ele produziu belas cancoes com influencia rítmica da música de James Brown juntamente com o sentimento melódico de Marvin Gaye. 

Quando fiquei sabendo da trilha desse filme, resolvi baixar. Isso foi sexta-feira. E essa seção do blog é para álbuns que já ouço há mais tempo, não para "novidades" como essa. Mas creio que essa é uma exceção muito bem justificada.

Baixem o disco e vocês vão entender o que quero dizer. É de cair os queixos e de emudecer os ouvidos.

ATENÇÃO: ESTE DISCO PODE CAUSAR VÍCIO IRREVERSÍVEL.

domingo, 27 de junho de 2010

É dia 27

Último domingo de junho em 2010, dia 27 chegou. E, com ele, a celebração de mais uma idade completada.

Muitos ficam me cobrando pela festa, pelas saídas aos butecos... Digamos que não sou de festa sempre. Gosto de celebrar, é diferente de comemorar.

Mas é nessa época, depois do Natal, que eu costumo ficar mais mal humorado. Não sei o porquê, deve haver alguma relação direta ou com a aproximação da data ou com a aproximação do frio. Gosto de frio mais que de calor, mas ele tem o defeito de deprimir as pessoas.

Celebrando, agradeço ao Deus que por nós zela (muito mais que qualquer Grande Irmão) por mais essa data. Trancos, barrancos e tropeços são sempre bem-vindos para dar uma aumentada na nossa atenção para conosco e com os outros. E pensar que no ano passado a barra tava é pesada... Mas passou, enfim.

Há dois anos, postava eu o "I have a dream" de Luther King. Almejo hoje coisas que não estão mais no nível do sonho. Está amorfo, entre realidade  estado alfa. É vontade de mudar, de dar guinadas, mas que não posso fazê-las pelo meu medo inerente do fracasso. Mas isso é letra para outra música.

Falando em música, não posso deixar de celebrar com algumas músicas que me são muito caras à vida. Uma delas, "Cotidiano", do Catedral.

Há exatos seis anos, quando completava 18, ganhava um CD acústico do Catedral. Era exatamente um domingo, e eu estava com amigos, participando da equipe de um retiro. Até hoje, escuto esse disco com o mesmo (ou quase mesmo) amor de quando o recebi em 2004. Mais especificamente por "Cotidiano", letra com a qual me identifico deveras.

Mais do que uma música, essa canção se tornou uma oração para mim. Nos momentos de devoção, procura e até mesmo raiva e angústia... ah... Ela dá aquela pequena pressão que te alivia. E que te dá vontade imensa de chorar.

"O meu desejo é intenso demais pra falar
Mas hoje eu grito e o que acredito eu vou levar"


E, claro, para celebrar, eu digo que não vou parar enquanto não conseguir o suficiente. MJ is alive!



A todos que, como eu e Guimarães Rosa, nascemos em 27 de junho, felicidades.

domingo, 13 de junho de 2010

Álbum da Semana: Miguel de Deus - Black Soul Brothers (1977)

Assim é a descrição de Miguel de Deus na internet, contando um pouco do seu histórico musical:


Miguel de Deus foi um dos músicos mais versáteis dos anos 70, e ao mesmo tempo menos conhecido do grande público. Miguel nasceu em Ilhéus, na Bahia. Já morando no Rio de Janeiro em meados de 1969, formou a banda “Os Brazões” que explorava as influências africanas na música e na maneira de vestir e dançar. A banda fazia uma mistura de rock e psicodelia com elementos da música brasileira e africana e chegou a acompanhar Gal Costa em uma de suas turnês no final dos anos 60. Em 1974, Miguel de Deus criou a banda “Assim Assado”, muito bem “inspirado” no grupo Secos e Molhados.

Em 1977, Miguel de Deus criou talvez o LP mais obscuro da black music setentista brasileira, o disco: “Black Soul Brothers”. Convidado pela gravadora Copacabana para registrá-lo, o disco é exercício glorioso do movimento black brasileiro. Ilustrado por um poderoso cabelo black power na capa, Miguel registrava naquele momento a sua verdadeira faceta, essa que esteve presente sempre em todas as fases musicais que desfrutou. Envolto no mais puro clima de festa, Miguel de Deus gravou Black Soul Brother exatamente como quem fazia parte da música pela festa, e não o contrário.


Bem... Minha experiência com esse cantor é algo muito digno para mim.

Essa descrição aí de cima veio do blog Black Broder, dos bróderes do Black Sonora - banda de BH que é uma das minhas favoritas no circuito local. Fiquei curioso ao ler o post acima. Baixo ou não baixo? Escuto ou não? Experiência sem volta.

Indubitavelmente, o álbum "Black Soul Brothers" foi o álbum do ano de 2009 para mim. Não de lançamentos, de novidades - nessa categoria entra o "Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos", do Otto. Mas eu falo desse em outra ocasião -, mas de descobertas. Adepto da banda larga somente em março de 2010, tive que baixar o disco em outro computador que não o de casa para poder saciar a minha curiosidade. E não me arrependo.

"Black Soul Brothers" é uma viagem sem volta. Assim como você não regride na evolução, eu me senti impulsionado a descobrir mais esse cabra. Baixei o "Os Brazões", no seu tropicalismo ao extremo. Agradei logo de cara, por ser uma coisa leve, tropical - faltava só o abacaxi do lado, num pratinho, coberto de açúcar, para servir de petisco enquanto se ouve o disco. Mas aí veio o "Assim Assado".

"Disco denso esse", pensei, quando coloquei no player para rodar. Não consegui gostar de cara. Era muito difícil a digestão - era como comer uma feijoada completa em um dia ensolarado na praia. Ou seja, não desceu de cara. Mas como todo prato pesado tem a sua época para comer, esperei um pouco e fui degustando aos poucos. "Assim Assado" foi o momento mais... Sem palavras de Miguel de Deus.

Donde cabe dizer que "Black Soul Brothers" é uma viagem sem volta porque:

1. o álbum é deliciosamente dançante: é um soul misturado com pitadas de psicodelia e arranjos instrumentais incríveis. "Cinco Anos", a 1ª faixa, resume-se a um parágrafo com quatro versos, mas é impossível você ligar para isso com um naipe de metais indecente como aquele e uma linha de baixo feroz - linha tal que me lembrou a igualmente foda "Amor", de Secos & Molhados;

2. Miguel de Deus é a virtuose em si. Quem considera que conhece tudo de música, favor considerar o Miguel porque ele é louco nas suas viagens musicais. Não há como você ser o mesmo depois de ouvi-lo. Estranho isso, mas é o que ocorreu comigo;

3. é uma grande referência para quem gosta de Soul. Porque é feito de um jeito igual no modo mesmo de se fazer Soul, mas diferente na prosódia, na acentuação rítmica. É mais inquietante que um James Brown ou um Jacksons Five, por exemplo;

4. por último e não menos importante, o cara é um completo obscuro! Não se conhece Miguel de Deus como deveria - não falo em torná-lo Deus, mas falo de um processo de resgate, como feito com o excelente Tim Maia Racional (além do "Uh! Uh! Uh!, que beleza" tem mais viagens nessa história). Um trabalho que seria gratificante aos amantes de música black e ao próprio Miguel de Deus, caso esteja vivo (o cara é tão obscuro e pouco famoso que eu nem mesmo sei se ele tá vivo ainda!).

Enfim, vale dar uma ouvida nessa fábrica de mistérios. Clique aqui para o sol entrar e pegar você desprevenido.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Assim caminha a nossa cidade

Não, eu não consigo me conformar. Podem falar o que quiser. Mas eu não me conformo. Vou contar uma história.

Acreditem se quiser, mas eu, com 23 anos de idade, nunca tinha saído de Minas Gerais. Nunca, pelo menos nesta encarnação. O mais longe de Belo Horizonte que já fui é Poços de Cadas, região sul, a 8 horas (ou mais) da capital. Fui por conta de um festival de corais, em novembro de 2005, em comemoração ao aniversário da cidade.

Por conta das minhas questões financeiras, nunca pude viajar como eu quis. Amigos meus visitavam o Hopi Hari, o Rio, Salvador. Eu me contentava com Ribeirão das Neves, Nova Lima e, quando mais distante, Lavras - minha segunda cidade. Quase fui a Trindade (RJ), próximo de Paraty, em 2007; mas não se concretizou a minha ida.

Mas comecei a juntar uma grana por conta dos meus trabalhos, bicos e afins. E botei na cabeça de fazer um passeio por mês. Seja perto, seja longe. Chega março de 2010 e eu fico sabendo da Virada Cultural de São Paulo. Botei na cabeça que viajaria e assim fiz. Arranjei um esquema de excursão cuja passagem - ida e volta - me custou a bagatela de R$ 80,00. (Obrigado, Melzim Corp.!) E dois dos meus amigos ainda ofereceram a sua humilde residência, em Pinheiros. E, claro, me explicaram como fazia para chegar. Avisando que eu ia descer na Praça da República, ele me disse o seguinte:

- Você vai até o Metrô República e pega o Linha Vermelha sentido Corinthians-Itaquera, e desce na Sé; na Sé, você faz baldeação: desce e vai pegar o Linha Azul, sentido Jabaquara, e desce na Paraíso; na Paraíso, você faz outra baldeação e pega o Linha Verde sentido Vila Madalena. Aí, você desce na Clínicas...

Clínicas era o "ponto final". Eu ainda tinha que descer 11 quarteirões da Teodoro Sampaio em seguida.

Eram 15 de maio quando desembarquei na República. E uma sensação diferente me invadiu - de não estar mais em Minas, de ter podido sair do estado, de ter conhecido algo além das montanhas alterosas. Não era meramente visual (a cidade é realmente cinza, frenética e poluída), mas chegava a ser espiritual.


Pois bem, eu e minha companhia de viagem descemos e resolvemos comer algo. Mas, antes, passamos na 25 de Março. O inferno na Terra, mesmo. Topamos com o Mercado Municipal e resolvemos bater um lanche. Nada muito caro, só um pastel e um refresco que custaram R$ 7,50. Só isso.

Abastecidos, subimos ao metrô São Bento, perto da 25, rumo a Pinheiros. E impressionado fiquei com a quantidade de gente que tem naquele transporte. Entramos - era já o trem da Linha Azul, e fomos direto a Paraíso. Ao que descemos nesta estação para baldear, piso a plataforma e o Linha Verde já aparece para mim. Cronometrado milimetricamente. "Caralho! Não deu nem pra descansar a mochila!" Eu e minha amiga ficamos bestas. Não só com a sincronia mas também com o pouco tempo entre as estações: se for 1 minuto é muito. Eu me sentia aquele cara do interior pela primeira vez na cidade grande. Beagá não é nada perto do que vi - o próprio centro de São Paulo é uma coisa desproporcional.

Quando fui a Sampa, me impressionei bastante com a Galeria do Rock, com a Paulista, com a Augusta, o Largo do Arouche, a Rego Barros, a Praça Roosevelt, o Largo de Santa Ifigênia, o Viaduto do Chá, o Vale do Anhangabaú, a própria República, a 25 de Março, o Mercado Municipal... Me impressionei com tudo isso, mas me choquei mesmo foi com o metrô.



Em BH, segundo o site do MetrôBH, 144 mil usuários/dia é a taxa de uso da única linha de metrô da cidade. Sendo que somente a capital tem por volta de 2.400.000 habitantes, o nosso trem atende a seis por cento de toda a cidade. Já em São Paulo... São 2,4 milhões (toda a BH) usando o metrô por dia. Estimando-se a população em 15 milhões, digamos que o metrô da maior cidade do Brasil e suas quatro (em breve cinco) linhas atende a... dezesseis por cento da cidade! (Isso sem contar os trens da Companhia Paulista de Trens Urbanos - a CPTM, que opera o que aqui chamamos "metrô".)

A comparação de números aqui só a faço para uma coisa: em BH, estamos caminhando em um perigoso círculo vicioso se uma medida drástica não for feita (leia-se expansão da linha 1 para o Aeroporto e para Betim e planejamento de pelo menos mais duas linhas subterrâneas - por que tem-se tanto medo de se fazer túnel aqui?). O metrô é, por enquanto, uma das melhores saídas para desafogar o tráfego urbano.

E como estamos hoje? Vamos lá.

O nosso transporte é dependente de ônibus, e quem os gerencia é a BHTrans. De três anos para cá, ela tem diminuído a quantidade de viagens dos coletivos urbanos (só dar uma olhada nos quadros de horários: o espaço entre as partidas tem aumentado). Sendo que a população é tendente a aumentar, aumentando-se o espaço entre as viagens aumenta-se a lotação. As pessoas andam cada vez mais desconfortáveis, e muitas delas têm que esperar o próximo no ponto de tão cheio que os coletivos passam. E esse descontentamento é que dá o start para o aumento de carros na cidade - já estamos na proporção de 1 carro para 2 habitantes, e pior: ninguém dá carona. Aumentam os carros, diminuem-se os ônibus, lotam-se os coletivos, engarrafa-se o trânsito... E assim vai, numa espiral que ocasionará o caos completo em 2014, se nada for feito. Precisa esperar muito não: ontem, do Santo Antônio até a Pampulha, via Pedro II/Catalão, num trajeto que demora 55 minutos, gastei 1 hora e 45 minutos. E não tinha acidente nem jogo no Mineirão: era trânsito mesmo...

Enfim... São Paulo é solução? Lógico que não. Mas claro que serve de inspiração. Acho que vou encomendar uns carvões de lá para alimentar nossa máquina a vapor Eldorado-Vilarinho.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Tristeza nas Gerais

Eu estou profundamente triste com o quadro eleitoral em Minas desde 2008. De lá para cá, tenho tentado acompanhar mais de perto essas questões, escrevendo no meu universo paralelo chamado Pedreira na Vidraça, blog compartilhado com mais três amigos. E eu tenho dois motivos para a tristeza; um deles é o atual prefeito, o outro é um provável governador. Respectivamente, Márcio Lacerda e Hélio Costa.

Me dá um tristeza de ver uma terra de gente tão decente ter que engolir goela abaixo essa gente imunda, suja e nefasta. Um é padrinho de Aécio Neves, outra figura duvidosa por aqui - uma das dúvidas é se ele é mineiro ou carioca. Outro é "cumpadre" das Organizações Globo, a Fox tupiniquim.

Me dá nojo. Eu, que já desejei a política como uma carreira para aumentar a minha área de abrangência do bem que pratico (pois tudo é vai-e-volta), quero ter mais distância disso tudo. Mas ao mesmo tempo quero estar perto por me sentir impotente e querer reverter essa situação. Síndrome de Poliana, eu sei.

E me dá mais repulsa ainda ver alguns colegas, pessoas que eu vi amadurecer na vida adolescente do Colégio, se envolverem de forma tão... mesquinha. Tão falsa. Tão aviltante. Tão... Tão anti aquilo que o Colégio prega. Mas cada um segue o seu destino, não é?

Político é, hoje em dia, um cafajeste enrustido. Se fosse abertamente cafajeste (como Severino Cavalcanti ou Paulo Salim Maluf), eu seria mais simpático. Prefiro a sinceridade do cafajeste ao sorriso falso do ladrão de bicicletas. Se for para ser ladrão, que não me roube pelas costas, mas que exerça a ladroagem sincera, honesta, à minha vista. Prefiro isso a ter que aturar discursos pré-fabricados de "Minas Avança". Sério, Aécio, vai conhecer o metrô de Sampa antes de falar tal asneira.

"Sou pobre, porém honrado." (Seu Madruga)

Um dia, quiçá, isso tudo vai mudar.


Música da vez: de Noel Rosa, "Onde está a honestidade?".

domingo, 6 de junho de 2010

Álbum da Semana: Trio Mocotó - Trio Mocotó (1975)

Um dos motivos de eu ter retornado a escrever foi o conforto de falar das coisas de que gosto: política, música, filmes, livros, de mim mesmo. Enfim, para inaugurar o comentário 2010 sobre músicas/álbuns que escutei, vamos começar com o Trio Mocotó.



Trio Mocotó é uma banda de samba-rock, ritmo brasileiro.

O Trio Mocotó foi formado em 1968 na Boate Jogral, onde Fritz "Escovão", João "Parahyba" e Nereu Gargalo trabalhavam. Na época, a boate paulistana era o grande ponto de encontro da música brasileira e os três contratados da casa acompanhavam diariamente nomes como Clementina de Jesus, Nelson Cavaquinho, Cartola, Paulo Vanzolini, Manezinho da Flauta, além das históricas "canjas" com artistas brasileiros e outros ilustres visitantes como Duke Ellington, Oscar Peterson, Earl Hines.

Uma dessas canjas começou a se tornar frequente: Jorge Ben no violão, Fritz na cuíca, Nereu no pandeiro e Joãozinho com sua mistura de timba e bateria. Nessa época Jorge Ben estava morando em São Paulo e estava sem gravadora. A batida que nasceu desse encontro se transformou em marca registrada e levou Jorge Ben e o trio definitivamente ao estrelato. E foi essa batida que deu origem ao samba-rock. No próprio Jogral, Jorge e o trio assinaram com a Philips para a gravação de seu novo disco. O trio acompanhou Jorge em praticamente todas as faixas incluindo Que Pena, Domingas, Take It Easy My Brother Charles e País Tropical.


Eu conheci o Trio Mocotó por meio de um vinil de coletânea de samba que tem aqui em casa, chamado Samba Sambão, de 1975. Nesse disco, há algumas faixas desconhecidas - mas que adoro, como "Quando o Surdo Faz Bum", de Beto Scala, "O Patrão Mandou", de Paulinho Soares, e por aí vai. Nesse vinil, a música que representava o Trio Mocotó era "Xuxu Melão". Hoje, eu tenho certeza de que, do álbum citado, "Xuxu Melão" é uma das piores faixas do disco. Sendo que a música ainda é excelente.

O disco começa com "Não Adianta". Um samba meio dor de cotovelo cantado em coro, uma coisa meio esquisita para mim. Cantar samba em coro? E detalhe: começa com uma espécie de piano... Mas acabou que gostei do que ouvi. Achei bacana, interessante, diferente - ainda mais por serem paulistas fazendo samba, coisa diferente de se ver.

O disco segue, com várias faixas animadas como "O Meu Violão", "Toda Tarde", "Sossega Malandro" e outras. Todas muito bem trabalhadas e construídas para o samba. E eu que pensava que o Trio fosse algo menos... Menos elaborado. Não, dependendo da faixa rola até violino. Creia.

No geral, um álbum bacana a ser baixado e ouvido. Trio Mocotó é uma banda que, pelo menos para mim, tem importância na música brasileira. Gostei pra caramba - tá, tem algumas coisas com as quais me decepcionei, como a duração das músicas (que, dependendo, é maior que o necessário) e com a quantidade de repetições por causa dessa duração das músicas ("Não adianta" ficaria bem melhor em 2 minutos e meio. Mas tudio bem.).

Mais info no myspace dos caras.