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domingo, 16 de agosto de 2009

E o país sem racismo, CADÊ?

Homem negro espancado, suspeito de roubar o próprio carro

Por Notícia da agência Afropress em 14/08/2009 às 12:40


Tomado por suspeito de um crime impossível - o roubo do seu próprio carro, um EcoSport da Ford - o funcionário da USP, Januário Alves de Santana, 39 anos, foi submetido a uma sessão de espancamentos com direito a socos, cabeçadas e coronhadas, por cerca de cinco seguranças do Hipermercado Carrefour, numa salinha próxima à entrada da loja da Avenida dos Autonomistas, em Osasco. Enquanto apanhava, a mulher, um filho de cinco anos, a irmã e o cunhado faziam compras.

A direção do Supermercado, questionada pelo Sindicato dos Trabalhadores da USP, afirma que tudo não passou de uma briga entre clientes.

O caso aconteceu na última sexta-feira (07/08) e está registrado no 5º DP de Osasco. O Boletim de Ocorrência - 4590 - assinado pelo delegado de plantão Arlindo Rodrigues Cardoso, porém, não revela tudo o que aconteceu entre as 22h22 de sexta e as 02h34 de sábado, quando Santana - um baiano há 10 anos em São Paulo e que trabalha como Segurança na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, há oito anos - chegou a Delegacia, depois de ser atendido no Hospital Universitário da USP com o rosto bastante machucado, os dentes quebrados.

Ainda com fortes dores de cabeça e no ouvido e sangrando pelo nariz, ele procurou a Afropress, junto com a mulher - a também funcionária do Museu de Arte Contemporânea da USP, Maria dos Remédios do Nascimento Santana, 41 anos - para falar sobre as cenas de terror e medo queviveu. "Eu pensava que eles iam me matar. Eu só dizia: Meu Deus".

Santana disse pode reconhecer os agressores e também pelo menos um dos policiais militares que atendeu a ocorrência - um PM de sobrenome Pina. "Você tem cara de que tem pelo menos três passagens. Pode falar. Não nega. Confessa, que não tem problema", teria comentado Pina, assim que chegou para atender a ocorrência, quando Santana relatou que estava sendo vítima de um mal entendido.

Depois de colocar em dúvida a sua versão de que era o dono do próprio carro, a Polícia o deixou no estacionamento com a família sem prestar socorro, recomendando que, se quisesse, procurasse a Delegacia para prestar queixa.


Terror e medo

"Cheguei, estacionei e, como minha filha de dois anos, dormia no banco de trás, combinei com minha mulher, minha irmã e cunhado, que ficaria enquanto eles faziam compra. Logo em seguida notei movimentação estranha, e vi dois homens saindo depressa, enquanto o alarme de umamoto disparava, e o dono chegava, preocupado. Cheguei a comentar com ele: "acho que queriam levar sua moto". Dito isso, continuei, mas já fora do carro, porque notei movimentação estranha de vários homens, que passaram a rodear, alguns com moto. Achei que eram bandidos quequeriam levar a moto de qualquer jeito e passei a prestar a atenção", relata.

À certa altura, um desses homens - que depois viria a identificar como segurança - se aproximou e sacou a arma. Foi o instinto e o treinamento de segurança, acrescenta, que o fez se proteger atrás de uma pilastra para não ser atingido e, em seguida, sair correndo em zigue-zague, já dentro do supermercado. "Eu não sabia, se era Polícia ou um bandido querendo me acertar", contou.

Os dois entraram em luta corporal, enquanto as pessoas assustadas buscavam a saída. "Na minha mente, falei: meu Deus. Vou morrer agora. Eu vi essa cena várias vezes. E pedia a Deus que ele gritasse Polícia ou dissesse é um assalto. Ele não desistia de me perseguir. Nós caímos no chão, ele com um revólver cano longo. Meu medo era perder a mão dele e ele me acertar.

Enquanto isso, a mulher, a irmã, Luzia, o cunhado José Carlos, e o filho Samuel de cinco anos, faziam compras sem nada saber. "Diziam que era uma assalto", acrescenta Maria dos Remédios.

Segundo Januário, enquanto estava caído, tentando evitar que o homem ficasse em condições de acertar sua cabeça, viu que pessoas se aproximavam. "Eu podia ver os pés de várias pessoas enquanto estava no chão. É a segurança do Carrefour, alguém gritou. Eu falei: Graças a Deus, estou salvo. Tô em casa, graças a Deus. Foi então que um pisou na minha cabeça, e já foi me batendo com um soco. Eu dizia: houve um mal entendido. Eu também sou segurança. Disseram: vamos ali no quartinho prá esclarecer. Pegaram um rádio de comunicação e deram com força na minha cabeça. Assim que entrei um deles falou: estava roubando o EcoSport e puxando moto, né? Começou aí a sessão de tortura, com cabeçadas, coronhadas e testadas", continuou.


Sessão de torturas

"A sessão de torturas demorou de 15 a 20 minutos. Eu pensava que eles iam me matar. Eu só dizia: Meu Deus, Jesus. Sangrava muito. Toda vez que falava "Meu Deus", ouvia de um deles. Cala a boca seu neguinho. Se não calar a boca eu vou te quebrar todo. Eles iam me matar de
porrada", conta.

Santana disse que eram cerca de cinco homens que se revezavam na sessão de pancadaria. "Teve um dos murros que a prótese ficou em pedaços. Eu tentava conversar. Minha criança está no carro. Minha esposa está fazendo compras, não adiantava, porque eles continuaram batendo. Não desmaiei, mas deu tontura várias vezes. Eu queria sentar, mas eles não deixavam e não paravam de bater de todo jeito".

A certa altura Januário disse ter ouvido alguém anunciar: a Polícia chegou, sendo informada de que o caso era de um negro que tentava roubar um EcoSport. "Eles disseram que eu estava roubando o meu carro. E eu dizia: o carro é meu. Deram risada."


A Polícia e o suspeito padrão

A chegada da viatura com três policiais fez cessar os espancamentos, porém, não as humilhações. "Você tem cara de que tem pelo menos três passagens. Pode falar. Não nega. Confessa que não tem problema", comentou um dos policiais militares, enquanto os seguranças desapareciam.

O policial não deu crédito a informação e fez um teste: "Qual é o primeiro procedimento do segurança?". Tonto, Januário, Santana disse ter respondido: "o primeiro procedimento é proteger a própria vida para poder proteger a vida de terceiros".

Foi depois disso que conseguiu que fosse levado pelos policiais até o carro e encontrou a filha Ester, de dois anos, ainda dormindo e a mulher, a irmã e o filho, atraídos pela confusão e pelos boatos de que a loja estava sendo assaltada. "Acho que pela dor, ele se deitou no chão. Estava muito machucado, isso tudo na frente do meu filho", conta Maria dos Remédios.


Sem socorro

Depois de conferirem a documentação do carro, que está em nome dela, os policiais deixaram o supermercado. "Daqui a pouco vem o PS do Carrefour. Depois se quiserem deem queixa e processem o Carrefour", disse o soldado.

Em choque e sentindo muitas dores, o funcionário da USP conseguiu se levantar e dirigir até o Hospital Universitário onde chegou com cortes profundos na boca e no nariz. "Estou sangrando até hoje. Quando bate frio, dói. Tenho medo de ficar com seqüelas", afirmou.

A mulher disse que o EcoSport, que está sendo pago em 72 parcelas de R$ 789,00, vem sendo fonte de problemas para a família desde que foi comprado há dois anos. "Toda vez que ele sai a Polícia vem atrás de mim. Esse carro é seu? Até no serviço a Polícia já me abordaram. Meu Deus, é porque ele é preto que não pode ter um carro EcoSport?", se pergunta.

Ainda desorientado, Santana disse que tem medo. "Eu estou com vários traumas. Se tem alguém atrás de mim, eu paro. Como se estivesse sendo perseguido. Durante a noite toda a hora acordo com pesadelo. Como é que não fazem com pessoas que fizeram alguma coisa. Acho que eles matam a pessoa batendo", concluiu.

Fonte: Centro de Mídia Independente




Prefiro não comentar. Meu sangue já tá talhado o bastante para isso.

sábado, 15 de agosto de 2009

Vereadores de BH barram projeto de transparência

Os vereadores de Belo Horizonte fizeram uma manobra para não aprovar o projeto de lei que previa a divulgação da prestação de contas da câmara municipal na internet. O projeto precisava de 21 votos para ser aprovado, mas só teve 16 votos a favor e 8 abstenções. o resto dos vereadores não foram a sessão para evitar aprovação sem queimar seu filme votando
contra.

Abaixo está a lista dos vereadores que não foram a sessão para evitar a aprovação e os que se absteram e também os que foram favoravéis. Por favor, propaguem esses nomes para sabermos em quem devemos

ABSTENÇÕES
Edinho do Açougue (PTdoB)
Gêra Ornelas (PSB)
Gunda (PSL)
Geraldo Félix (PMDB)
Moamed Rachid (PDT)
Paulinho Motorista (PSL)
Preto (DEM)
Wellington Magalhães (PMN)

AUSENTES
Luzia Ferreira (PPS)
Neusinha Santos (PT)
Carlos Henrique (PR)
Autair Gomes (PSC)
Alexandre Gomes (PSB)
Anselmo Domingos (PTC)
Henrique Braga (PSDB)
Leonardo Mattos (PV)
Bispo Chambarelle (PRB)
Elaine Matozinhos (PDT)
Luis Tibé (PTdoB)
Cabo Júlio (PMDB)
Divino Pereira (PMN)
Maria Lucia Scarpelli (PCdoB)
Leo Burguês (PSDB)
Hugo Thomé (PMN)
Adriano Ventura (PT)

FAVORÁVEIS
Alberto Rodrigues (PV)
Arnaldo Godoy (PT)
Bruno Miranda (PDT)
Fred Costa (PHS)
Iran Barbosa (PMDB)
João Locadora (PT)
João Oscar (PRP)
João Vitor Xavier (PRP)
Pablito (PTC)
Paulo Lamac (PT)
Pricila Teixeira (PTB)
Elias Murad (PSDB)
Preto do Sacolão (PMDB)
Ronaldo Gontijo (PPS)
Sergio Fernando (PHS)
Silvinho Rezende (PT)

Aos que votaram a favor, não fizeram mais do que a obrigação. Aos que se abstiveram, uma salva de vaias.


Mais info aqui.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Dica musical da semana: Curumin


Nascido em São Paulo no ano de 1976, descendente de japoneses e espanhóis, Luciano Nakata Albuquerque ganhou logo cedo o apelido de Curumin. Iniciou sua carreira musical por volta dos oito anos de idade quando formou sua primeira banda com colegas de escola, tocando panelas em substituição à bateria. Aos quatorze anos já tocava bateria e percussão em casas noturnas de São Paulo e aos dezesseis anos aprendeu sozinho a tocar teclado.

Como baterista, Curumin acompanhou grandes nomes da MPB, como Paula Lima (de 1997 à 2002), Arnaldo Antunes (de 1999 à 2005), Vanessa da Matta (2006) e CéU (2007), entre outros. Ainda na década de 1990 tocou com a Banda Toca ao lado do guitarrista e produtor Gustavo Lenza, com quem veio à produzir seus dois primeiros discos.

Em 2003 Curumin inicia sua carreira solo com o lançamento de seu primeiro disco entitulado “Achados e Perdidos” pelo selo YB Music no Brasil. Em 2005 este CD é lançado no mercado norte-americano pelo selo californiano Quannum Projects. Em 2008 Curumin lança seu segundo trabalho de estúdio - “JapanPopShow”, lançado simultaneamente no Brasil, pela YB Music, nos EUA pela Quannum Projects e no Japão pela JVC / Victor Entertainment.

“Um dos mais espertos jovens músicos de São Paulo, Curumin é um mestre tanto no funk americano quanto no brasileiro.”
Ben Ratcliff - The New York Times

Fonte: Urban Jungle


Eu conheci o Curumin ouvindo a Rádio UFMG Educativa, enquanto eu trabalhava na produção (entre fevereiro e julho de 2009). Sentia um suingue diferente, uma coisa nova, uma renovação musical que se confirmava, de certa forma.

Baixei os dois discos, o "Achados e Perdidos" e o "JapanPopShow". Vale a pena: em cada um, tem uma coisa que gosto.




Para dar um pequeno gosto, Curumin - Vem Menina (álbum Achados e Perdidos)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Jornalismo é uma "caixinha" de surpresas

Ei, amigos!

Andei pensando sobre o motivo de muita gente fazer Jornalismo. Uns por ter o rostinho bonito, outros pela vocação e outros... Por uma iluminação divina! É, isso mesmo.

Observem essa fabulosa entrevista de uma (fabulosa...) estudante:


Veja - Estudar Jornalismo a ajudará na carreira?
Daniela -
Claro. Eu fazia Direito. Desisti e pensei em entrar em Veterinária, porque amo animais. Também quis estudar Teatro. Acho legal cinema, ser atriz. Só que cineasta é só para quando for mais velha, com 30, 40 anos.

Veja - Mas como você foi parar no Jornalismo?
Daniela -
Eu estava tomando Toddynho no café-da-manhã. Na embalagem, tinha um negócio que explicava as profissões na linguagem de uma criança. O dessa era Jornalismo. Li e falei: "Caramba. É isso que tenho que fazer". Tem tudo a ver com ser modelo.

Fotolegenda: Daniela: descobriu sua vocação em um Toddynho


Como diria Zé Simão, é mole, mas sobe. Ou como diria o outro, é duro mas desce!

Ai, meu rins...

Graças ao PQN e ao Pérolas da Assessoria

Faz-me rir

Sabem... Andei pensando um pouco sobre uma discussão que há muito assombra o imaginário televisivo brasileiro: a questão do humor e suas variações.

Meu primeiro programa de humor favorito (desses que eu assistia todos os episódios) foi – e é até hoje – o Chaves, do SBT. Um humor que fazia você rir sem querer querendo. Bobo, fraco para alguns, mas que ainda conquista fãs e admiradores - seus personagens são fonte de inspiração para muitos de nós. Seu Madruga mesmo, que inclusive é nome de banda aqui em BH.

Com o tempo caminhando, fui tomando gosto pelo Casseta e Planeta (que hoje está mais fraco que barbante puído por cupim), pela A Praça É Nossa (laiá laiá...) e pelo Zorra Total. Você pode exclamar até um CREDO! por causa deste último. Mas isso é coisa de guri de 12 ou 13 anos.

Em 2003 ou 2005 (se não me falha a memória), comecei a assistir o Pânico. Já ouvia falar dos caras, de vez em quando punha na Jovem Pan pra ouvir, mas nunca tinha tido oportunidade para assistir o Pânico na TV por um simples motivo: eu frequentava o Protestantismo na época, e os cultos eram no mesmo horário do programa – 19 horas. Teve também um motivo pessoal para que eu não acompanhasse o programa desde o início: o receio do que meus pais poderiam pensar de eu ver um programa “ao nível do” Pânico. Imaginações e confabulações de um pobre menor com seus 16 ou 17 anos. Hoje, minha mãe é fã dos caras.

Comecei a ver o Pânico por causa, além da curiosidade inerente a mim, por causa da polêmica com o Vitor Fasano. (Mais info aqui.) Fiquei sabendo do acontecido via uma rádio daqui de Belo Horizonte, e fiquei na pilha para ver se, no domingo seguinte, eu veria cenas do murro do “ator” no Vesgo. Que o Fasano não tenha gostado da piada, isso é uma coisa – agredir é outra completamente diferente, né não, Netinho de Paula? E ali vi o nível das piadas. O nível que me atendia, que me satisfazia, que há muito tempo eu não via na televisão (a última tentativa ousada até então foi o Marcos Mion comandando o “Descontrole” na BAND; saudades do MONTINHÔÔÔÔ!) e que eu sentia falta. O padrão global da Zorra já era muito aquém pro meu gosto de humor.

E o Pânico me conquistava à medida que o tempo avançava. Recentemente, perdeu dois dos seus melhores integrantes (o Gluglu e o Mendigo, o Vinícius e o Carlinhos) para a emissora do Edir Macedo. Pensei que o programa poderia perder seu propósito, sua meta; mas qual foi a surpresa com a manutenção do padrão mesmo com a saída dos dois... Tio Emílio Zurita não ficou na mão – sem trocadilhos.

Só que, em 17 de março de 2008, estreava na Rede Bandeirantes uma nova atração. O “Caiga Quien Caiga”, um dos programas de grande sucesso da Argentina, chegava en tierras brasileñas sob o comando do adorado e temido Professor Tibúrcio, vulgo Marcelo Tas. (Vai me dizer que, à época de Rá-Tim-Bum, você não tinha medo daquela personagem gorda que aparecia do nada num cenário vazio e ainda dizia, medonhamente: “Olááá, crianças!”; mas era tão medonho que era divertido!) O CQC chegava, e eu me fascinava com aquele novo tipo de humor, jornalisticamente incorreto para alguns.

Sim, era um programa de jornalismo (é, diga-se de passagem) com toques de humor, ironia e sarcasmo. Quem que não se delicia ao ver o repórter inexperiente Danilo Gentili entrevistando Gretchen, Marcelinho Carioca ou (a minha entrevista favorita) o Padre Marcelo Rossi? O que dizer então da magnífica forma com a qual Rafinha Bastos conduz o Proteste Já? Eu acredito que muito jornalista gostaria de fazer do jeito que ele faz – porque tem hora que nós, jornalistas (ou cozinheiros, "cê ki sabe"), ficamos com o sapo entalado na garganta e não podemos fazer questionamentos mais profundos seja por questão de tempo da matéria, seja pelo direcionamento editorial da empresa na qual se trabalha. O humor estava conjugado com o jornalismo.

No ano passado, não assisti a apenas cinco de todos os CQCs que tivemos ano passado – tal era a minha vontade de ver e aprender mais com os caras. Só que, na faculdade onde estudei, a minha querida Universidade Federal de Minas Gerais (a UFMG), uma polêmica vinha à tona: o que é mais legal, CQC ou Pânico? Eu tinha um pouco de preguiça desse tipo de conversa – até pelo fato de o CQC ser mais universitariamente aceito e correto porque é o Tas no comando. E o Pânico é taxado como de humor inferior, de mau gosto etc.

Não faço aqui uma defesa do Pânico diante o CQC; o que quero dizer é que ambos os programas são deveras importantes para mim; justamente o fato de um não ter nada a ver com o outro. São dois humores distintos, cada um com o seu defeito. O Pânico bem que podia pegar um pouco mais leve, não exagerar em algumas atitudes (como o “Dicas com Marcos Chiesa”; coitado do Bola...); assim como o “Custe o Que Custar” precisa ser menos “Ponte Aérea Rio-São Paulo-Brasília” e tentar ver que existe um Brasil além dessas três cidades e estados. É, admito, a minha maior chateação com o CQC: o bairrismo.

Humores são humores, ironias também. Se na universidade o CQC é o “tchuki tchuki” dos estudantes e o Pânico é a ralé, essa comparação não deveria nem existir. Um pode aprender com o outro: o Pânico pode aprender a não ser muito escrachado demais e pegar na ironia e no sarcasmo moleque do CQC; e os homens de preto bem que poderiam absorver um pouco do Pânico para sempre se reformularem e nunca ficarem presos a um formato somente. Se não houver reciclagem nem de um e nem de outro, não há quem aguente. Televisão é igual sexo: quem não dá audiência perde para a concorrência.

E, se for para ter sempre mais do mesmo, eu fico com o Chaves – que, creio eu, é o tipo de humor que jamais se desgasta; os episódios se repetem, mas estamos nós lá, vidrados na telinha e sempre assistindo à ida da turma da vila a Acapulco. Não contavam com a astúcia do Bolaños!

domingo, 19 de julho de 2009

Boaventura de Sousa Santos em Belo Horizonte: 04 de agosto

Segue abaixo o que acabo de receber. Repassem adiante!


O Sinpro Minas - Sindicato dos Professores de Minas Gerais - e o Centro de Estudos Sociais América Latina vão promover, no dia 4 de agosto, às 19 horas, no Minascentro, uma conferência com o sociólogo Boaventura Sousa Santos, da Universidade de Coimbra.

A temática será: Epistemologias do Sul - O papel dos Movimentos Sociais na Produção de Saberes, título de sua recente obra que traz uma série de artigos que problematizam o monopólio do conhecimento na modernidade e aponta para a necessidade da democratização dos saberes. A entrada é franca.

Após a conferência haverá um debate, coordenado pelo professor da UFMG Leonardo Avritzer, com participação do presidente do Sinpro Minas, Gilson Reis; da professora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Maria Paula Menezes e do coordenador nacional do MST, Wanderlei Martins.

O sociólogo e professor Boaventura Santos é conhecido mundialmente por uma vasta produção teórica e sua militância ao lado dos movimentos sociais. Durante a conferência, Boaventura vai compartilhar com os mineiros suas reflexões que desafiam o projeto epistemológico imperial moderno e apontam para a emergência necessária da epistemologia do Sul. Trata-se da recuperação de saberes e práticas de movimentos e grupos sociais durante séculos inviabilizados e subalternizados pelo capitalismo e o colonialismo, na maioria das vezes subvertidos e transformados pelos saberes dominantes.

Conferência:
“Epistemologias do Sul – O Papel dos Movimentos Sociais na Produção de Saberes”
Com o sociólogo Boaventura de Sousa Santos - Professor da Universidade de Coimbra

04 de agosto – Terça-feira - 19 horas
Minascentro - Teatro Granada
Rua Guajajaras, 785, Centro – BH

Coordenação: Prof. Leonardo Avritzer - DCP/UFMG - CESAL

Debatedores:
  • Prof.Gilson Reis – Presidente do Sinpro Minas e da CTB Minas
  • Profa.Maria Paula Menezes - Professora do Centro de Estudos Sociais –Universidade de Coimbra
  • Wanderlei Martins - Coordenador nacional do MST

Após o evento, o prof. Sousa Santos irá autografar seu novo livro "Epistemologias do Sul"

Realização: Sinpro Minas e Cesal

Apoio:

MST
Fórum Sindical Social
Comitê Mineiro do Fórum Social Mundial
Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais
Comitê Mineiro do Fórum Social Mundial


Entrada Franca

www.sinprominas.org.br

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Reproduzindo, agora, um texto do Boaventura publicado no Pedreira na Vidraça:


O IMPENSÁVEL ACONTECEU


O Estado deixou de ser o problema para voltar a ser a solução; cada país tem o direito de fazer prevalecer o que entende ser o interesse nacional contra os ditames da globalização; o mercado não é, por si, racional e eficiente, apenas sabe racionalizar a sua irracionalidade e ineficiência enquanto estas não atingirem o nível de auto-destruição.

A palavra não aparece na mídia norte-americana, mas é disso que se trata: nacionalização. Perante as falências ocorridas, anunciadas ou iminentes de importantes bancos de investimento, das duas maiores sociedades hipotecárias do país e da maior seguradora do mundo, o governo dos EUA decidiu assumir o controle direto de uma parte importante do sistema financeiro.

A medida não é inédita pois o Governo interveio em outros momentos de crise profunda: em 1792 (no mandato do primeiro presidente do país), em 1907 (neste caso, o papel central na resolução da crise coube ao grande banco de então, J.P. Morgan, hoje, Morgan Stanley, também em risco), em 1929 (a grande depressão que durou até à Segunda Guerra Mundial: em 1933, 1000 norteamericanos por dia perdiam as suas casas a favor dos bancos) e 1985 (a crise das sociedades de poupança).

O que é novo na intervenção em curso é a sua magnitude e o fato de ela ocorrer ao fim de trinta anos de evangelização neoliberal conduzida com mão de ferro a nível global pelos EUA e pelas instituições financeiras por eles controladas, FMI e o Banco Mundial: mercados livres e, porque livres, eficientes; privatizações; desregulamentação; Estado fora da economia porque inerentemente corrupto e ineficiente; eliminação de restrições à acumulação de riqueza e à correspondente produção de miséria social.

Foi com estas receitas que se "resolveram" as crises financeiras da América Latina e da Ásia e que se impuseram ajustamentos estruturais em dezenas de países. Foi também com elas que milhões de pessoas foram lançadas no desemprego, perderam as suas terras ou os seus direitos laborais, tiveram de emigrar.

À luz disto, o impensável aconteceu: o Estado deixou de ser o problema para voltar a ser a solução; cada país tem o direito de fazer prevalecer o que entende ser o interesse nacional contra os ditames da globalização; o mercado não é, por si, racional e eficiente, apenas
sabe racionalizar a sua irracionalidade e ineficiência enquanto estas não atingirem o nível de auto-destruição; o capital tem sempre o Estado à sua disposição e, consoante os ciclos, ora por via da regulação ora por via da desregulação. Esta não é a crise final do capitalismo e, mesmo se fosse, talvez a esquerda não soubesse o que fazer dela, tão generalizada foi a sua conversão ao evangelho neoliberal.

Muito continuará como dantes: o espiríto individualista, egoísta e anti-social que anima o capitalismo; o fato de que a fatura das crises é sempre paga por quem nada contribuiu para elas, a esmagadora maioria dos cidadãos, já que é com seu dinheiro que o Estado intervém e muitos perdem o emprego, a casa e a pensão.

Mas muito mais mudará. Primeiro, o declínio dos EUA como potência mundial atinge um novo patamar. Este país acaba de ser vítima das armas de destruição financeira massiça com que agrediu tantos países nas últimas décadas e a decisão "soberana" de se defender foi afinal induzida pela pressão dos seus credores estrangeiros (sobretudo chineses) que ameaçaram com uma fuga que seria devastadora para o actual american way of life.

Segundo, o FMI e o Banco Mundial deixaram de ter qualquer autoridade para impor as suas receitas, pois sempre usaram como bitola uma economia que se revela agora fantasma. A hipocrisia dos critérios duplos (uns válidos para os países do Norte global e outros válidos para os países do Sul global) está exposta com uma crueza chocante. Daqui em diante, a primazia do interesse nacional pode ditar, não só proteção e regulação específicas, como também taxas de juro subsidiadas para apoiar indústrias em perigo (como as que o Congresso dos EUA acaba de aprovar para o setor automóvel).

Não estamos perante uma desglobalização mas estamos certamente perante uma nova globalização pós-neoliberal internamente muito mais diversificada. Emergem novos regionalismos, já hoje presentes na África e na Ásia mas sobretudo importantes na América Latina, como o agora consolidado com a criação da União das Nações Sul-Americanas e do Banco do Sul. Por sua vez, a União Européia, o regionalismo mais avançado, terá que mudar o curso neoliberal da atual Comissão sob pena de ter o mesmo destino dos EUA.

Terceiro, as políticas de privatização da segurança social ficam desacreditadas: é eticamente monstruoso que seja possível acumular lucros fabulosos com o dinheiro de milhões trabalhadores humildes e abandonar estes à sua sorte quando a especulação dá errado. Quarto, o Estado que regressa como solução é o mesmo Estado que foi moral e institucionalmente destruído pelo neoliberalismo, o qual tudo fez para que sua profecia se cumprisse: transformar o Estado num antro de corrupção.

Isto significa que se o Estado não for profundamente reformado e democratizado em breve será, agora sim, um problema sem solução. Quinto, as mudanças na globalização hegemônica vão provocar mudanças na globalização dos movimentos sociais que vão certamente se refletir no Fórum Social Mundial: a nova centralidade das lutas nacionais e regionais; as relações com Estados e partidos progressistas e as lutas pela refundação democrática do Estado; contradições entre classes nacionais e transnacionais e as políticas de alianças.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Meu Morro, Meu Olhar

O projeto "Meu Morro, Meu Olhar" surgiu da vontade de mostrar às crianças do Programa Escola Integrada, moradoras do Aglomerado Santa Lúcia, outra forma de expressão artística, diferente das que elas já conheciam, como o desenho e a pintura. Para isso houve a necessidade de ensiná-las a reeducar o olhar em relação à comunidade onde funciona a Escola Municipal Ulysses Guimarães, localizada no bairro São Pedro, nas imediações do Aglomerado Santa Lúcia, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

A ideia de fazer o projeto surgiu de quando a professora bolsita do Programa Escola Integrada da Prefeitura de Belo Horizonte, Aline Guerra, descobriu que a escola dispunha de treze câmeras fotográficas analógicas novas. Esboçou o projeto, conversou com a coordenadora do Programa Escola Integrada na E. M. Ulysses Guimarães, Ana Paula Pego Fernandes, e então pensou que as crianças pudessem ter aulas de fotografia, com o foco nas artes plásticas, registrando sua comunidade e seu dia-a-dia.

Outra questão era reeducar o olhar das crianças, para que pudessem ver sua comunidade com outros olhos e para que fizessem um registro daquilo que lhes parecesse interessante. Assim, os alunos fariam uma análise de seus conceitos em relação à fotografia e mudariam de meros receptores de conteúdos para indivíduos críticos, fruidores e produtores de imagens. Entenderiam que fazer fotografia não é apenas apertar o disparador: é preciso haver sensibilidade, registrando um momento único, singular. Entenderiam que o fotógrafo recria o mundo externo por meio da realidade estética.

Com o projeto esboçado, um fotógrafo profissional voluntário, Jorge Quintão Jr., foi convidado a dar aulas de fotografia para as crianças, duas vezes por semana, junto com a professora bolsista Aline. O grupo de alunos foi composto por crianças com idades entre 11 e 13 anos e então partiu-se para a execução do Projeto; atualmente são 17 alunos participantes.


(Tirado do site oficial do projeto - www.olharcoletivo.com.br)

Fiz uma matéria pra Rádio UFMG Educativa sobre o projeto, que, diga-se de passagem, vai ser exposto no Café com Letras (Savassi, BH) até 27 de julho.

Confira aqui a matéria, em áudio. E vá ver a exposição. O Café com Letras fica na rua Antônio de Albuquerque, 781, na Savassi (entre Sergipe e Alagoas).

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Eliminando mitos, derrubando tabus

Escola é dominada por preconceitos, revela pesquisa

O preconceito e a discriminação estão fortemente presentes entre estudantes, pais, professores, diretores e funcionários das escolas brasileiras. As que mais sofrem com esse tipo de manifestação são as pessoas com deficiência, principalmente mental, seguidas de negros e pardos. Além disso, pela primeira vez, foi comprovada uma correlação entre atitudes preconceituosas e o desempenho na Prova Brasil, mostrando que as notas são mais baixas onde há maior hostilidade ao corpo docente da escola.


Esses dados fazem parte de um estudo inédito realizado em 501 escolas com 18.599 estudantes, pais e mães, professores e funcionários da rede pública de todos os Estados do País. A principal conclusão foi de que 99,3% dos entrevistados têm algum tipo de preconceito e que mais de 80% gostariam de manter algum nível de distanciamento social de portadores de necessidades especiais, homossexuais, pobres e negros. Do total, 96,5% têm preconceito em relação a pessoas com deficiência e 94,2% na questão racial.

"A pesquisa mostra que o preconceito não é isolado. A sociedade é preconceituosa, logo a escola também será. Esses preconceitos são tão amplos e profundos que quase caracterizam a nossa cultura", afirma o responsável pela pesquisa, o economista José Afonso Mazzon, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA). Ele fez o levantamento a pedido do Inep e da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, órgãos do Ministério da Educação (MEC).

Segundo Daniel Ximenez, diretor de estudos e acompanhamento da secretaria, os resultados vão embasar projetos que possam combater preconceitos levados para a escola - e que ela não consegue desconstruir, acabando por alimentá-los. "É possível pensarmos em cursos específicos para a equipe escolar. Mas são ações que demoram para ter resultados efetivos."

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Isso é só para aqueles mais "ceguinhos" que acham que no Brasil não tem preconceito. Nada que um óculos de grau não resolva.



Música do dia: Curumin - Mal Estar Card.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Retorno Eterno

É com satisfação que retorno às postagens no meu blog. Depois de tantos cabelos caídos por conta do projeto de conclusão de curso, cá estou de volta, depois de várias tentativas. Bom...

Pra já começar por cima, aviso a todos que amanhã - terça, dia 16 de junho - estarei ao vivo na Rádio UFMG Educativa (de BH, MG) apresentando um programa de música especial "Psicodelia". Sim, estimado leitor, amanhã você poderá conferir pérolas musicais que vão te fazer "delirar sem ter febre". É essa a minha proposta.

Acompanhem-me ao vivo nesta terça, às 17 horas (Horário de Brasília), com uma programação especialíssima - o site é www.ufmg.br/radio - estarei ao vivo lá.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

E a MUDA se calou

Recebi, na semana passada, a seguinte notícia:


Polícia fecha rádio pirata que interferia no aeroporto de Cumbica


Uma operação da Polícia Civil de São Paulo tirou do ar nesta quinta-feira (19) uma rádio pirata que interferia no trabalho dos controladores de vôo do aeroporto de Guarulhos, o mais movimentado do país.

Também foi fechada nesta quinta-feira uma rádio que funcionava dentro da Unicamp. A universidade não quis comentar o fato. A Anatel informou que a fiscalização das rádios piratas é constante. O telefone para denunciar é 133.


O que me chama a atenção nessa nota é o que eu fiquei sabendo a posteriori: que a rádio funcionava há bastante tempo no campus da Unicamp, com a ciência do Reitor de lá.

Ultimamente tem acontecido uma devassa para fechar rádios "piratas". A principal alegação é a interferência na comunicação entre torres de comunicação e aviões. OK, me expliquem então:

por que existe tal interferência, sabendo-se que as rádios "piratas" operam em FM, assim como as comerciais (e as frequências utilizadas variam de cidade para cidade)?

Da série Perguntas que ninguém quer responder por todos já saberem a resposta.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Um outro jornalismo é possível

por Luis Weis, do Observatório da Imprensa


Pois é. A economia mundial vive a maior crise desde a segunda guerra, ou desde a grande depressão – ou desde sempre. E a imprensa cobriu com os mesmos cacoetes dos tempos de vacas gordas o encontro, em Belém, das organizações que os fatos dos últimos meses tornaram as únicas credenciadas a dizer: “Bem que nós avisamos!”

O Fórum Econômico de Davos continua a merecer o respeito da mídia, embora reúna os profetas falidos das virtudes da desregulamentação financeira, os culpados pela esbórnia homérica que hoje custa o emprego de milhões de pessoas e os luminares que agora não ousam prever, no que enfim estão certos, quanto vai durar e no que vai dar a desgraceira que desceu sobre o mundo.

Já o Fórum Social continua a ser tratado folcloricamente como “convescote”, “happening”, um ajuntamento de “tribos” prontas a criticar, mas incapazes de oferecer “qualquer sugestão” para o mundo tirar o pé da lama.

De um enviado especial a Belém: “Não é fácil entender o encontro […] Não se consegue extrair do fórum nenhum documento que aponte um caminho a seguir contra a crise.”

Sim, eles são muitos, diversos, com agendas para todos os gostos, nenhum consenso sobre a vida e a suas implicações que dê para resumir numa manchete, ou nenhum consenso, ponto – e, sim, eles dão palco e platéia para esse retrocesso chamado Hugo Chávez. Mas reduzir a isso a informação sobre o evento é de uma miopia que só o preconceito explica.

Ou melhor, os preconceitos, no plural. Um deles é o de abordar o novo a partir de um modelo velho – o da cobertura de congressos tradicionais, em que se fala, se disputa, se negocia, se formam facções, até a hora quando, pelo voto ou por aclamação, se tira a resolução final, se dão os trâmites por findos e os repórteres fecham as suas matérias e partem para outra.

Mas a pauta do Fórum Social para a qual a mídia não está nem aí é a do seu próprio movimento centrífugo, a mobilização e a discussão de ideias (seja qual for o seu mérito presumível) como obras abertas. O outro mundo de que os seus participantes falam pode ser, ou não, possível. Mas uma outra forma de fazer política já está em curso – nas barbas de uma imprensa pavlovianamente condicionada a esperar o que dali não sairá, por ter sido descartado, para o bem ou para o mal. Um outro jornalismo também deve ser possível.

Nessas novas articulações, até a presença de presidentes como os que estiveram em Belém pode não ser exatamente o que parece.

Por isso é que o jornalista, decerto uma raridade, interessado nos desdobramentos do Fórum, devia ler o artigo “Sem atalhos”, da ex-ministra Marina Silva, na Folha da segunda-feira, 2. Não é para concordar. É só para entender.

Entender, em primeiro lugar, a relação entre os “sociais” e a política organizada. “Provavelmente precisaremos nos livrar do peso da tradicional visão que vê os líderes como portavozes do destino”, escreve Marina. “Por mais que figuras carismáticas importem em processos de mudança, não dá mais para substituir – e nem é desejável fazê-lo – o papel de cada ser humano, sob pena da mesmice política, da terceirização de sonhos e de transformar cidadãos em meros seguidores.”

Entender, em consequência, o que pode haver de original, criativo – notícia, portanto – no modo como o Fórum pretende motivar, arregimentar e agir. Da ex-ministra:

”Numa sociedade movida a informação, formação de redes e espaços antes impensáveis de militância, a perspectiva do século 21 em plena crise, só pode ser a da interação real, de escuta, de convergência de múltiplas competências e percepções. E de novas referências para a busca de soluções menos verticalizadas e estanques […].”

Quando, guardadas as proporções e as diferenças, a infantaria do candidato Barack Obama foi por aí, a mídia se encheu de ohs! e ahs! Quando o Fórum entende que esse é o caminho, os jornais nem sequer se dão ao trabalho de checar se está andando como acha que deve.

Talvez ainda não, a julgar pelo conselho que lhe dá o decano da sociologia francesa, Alain Touraine, entrevistado por Laura Greenhalgh e Ivan Marsiglia para o caderno dominical Aliás, do Estado – o melhor produto singular da imprensa diária brasileira.

“Ajeitem seus canais de expressão se quiserem ter influência política”, é a mensagem de Touraine. Para o sociólogo, “os temas introduzidos pelos ‘altermundialistas’ no Fórum Social são, de fato, essenciais na tomada de consciência sobre os riscos que o mundo corre” – o que nenhum repórter, comentarista ou redator de editoriais desdenhosos sobre o acontecimento teve a lisura de pelo admitir que possa ser verdadeiro.

“Mas essa gente”, ressalva Touraine, “tem grande dificuldade de organizar suas ações, por uma razão elementar: o adversário contra o qual lutam são as grandes empresas multinacionais, que estão fora de seu alcance.”

Na Folha, outro sociólogo, o brasileiro Michael Löwy, radicado há 40 anos na França, também defende os altermundistas. Para ele, “está muito clara a vitalidade extraordinária do processo do Fórum, sua capacidade de se reinventar e avançar em idéias e propostas. Quem está em crise agora é o outro fórum, o de Davos.”

Já se disse, quem sabe injustamente, que entrevista é jornalismo preguiçoso. Mas a dura sentença se aplica ao caso. Isso (e muito mais) que os sociólogos dizem – “essa gente tem grande dificuldade de organizar suas ações”; “está muito clara a sua capacidade de se reinventar” – tinha de ser levado ao leitor no formato jornalístico por excelência: a reportagem.

Só depois de garimpar os fatos e sentir o clima em Belém é que a imprensa poderia dizer com um mínimo de objetividade se “não é fácil” mesmo “entender o encontro”.