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domingo, 19 de julho de 2009

Boaventura de Sousa Santos em Belo Horizonte: 04 de agosto

Segue abaixo o que acabo de receber. Repassem adiante!


O Sinpro Minas - Sindicato dos Professores de Minas Gerais - e o Centro de Estudos Sociais América Latina vão promover, no dia 4 de agosto, às 19 horas, no Minascentro, uma conferência com o sociólogo Boaventura Sousa Santos, da Universidade de Coimbra.

A temática será: Epistemologias do Sul - O papel dos Movimentos Sociais na Produção de Saberes, título de sua recente obra que traz uma série de artigos que problematizam o monopólio do conhecimento na modernidade e aponta para a necessidade da democratização dos saberes. A entrada é franca.

Após a conferência haverá um debate, coordenado pelo professor da UFMG Leonardo Avritzer, com participação do presidente do Sinpro Minas, Gilson Reis; da professora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Maria Paula Menezes e do coordenador nacional do MST, Wanderlei Martins.

O sociólogo e professor Boaventura Santos é conhecido mundialmente por uma vasta produção teórica e sua militância ao lado dos movimentos sociais. Durante a conferência, Boaventura vai compartilhar com os mineiros suas reflexões que desafiam o projeto epistemológico imperial moderno e apontam para a emergência necessária da epistemologia do Sul. Trata-se da recuperação de saberes e práticas de movimentos e grupos sociais durante séculos inviabilizados e subalternizados pelo capitalismo e o colonialismo, na maioria das vezes subvertidos e transformados pelos saberes dominantes.

Conferência:
“Epistemologias do Sul – O Papel dos Movimentos Sociais na Produção de Saberes”
Com o sociólogo Boaventura de Sousa Santos - Professor da Universidade de Coimbra

04 de agosto – Terça-feira - 19 horas
Minascentro - Teatro Granada
Rua Guajajaras, 785, Centro – BH

Coordenação: Prof. Leonardo Avritzer - DCP/UFMG - CESAL

Debatedores:
  • Prof.Gilson Reis – Presidente do Sinpro Minas e da CTB Minas
  • Profa.Maria Paula Menezes - Professora do Centro de Estudos Sociais –Universidade de Coimbra
  • Wanderlei Martins - Coordenador nacional do MST

Após o evento, o prof. Sousa Santos irá autografar seu novo livro "Epistemologias do Sul"

Realização: Sinpro Minas e Cesal

Apoio:

MST
Fórum Sindical Social
Comitê Mineiro do Fórum Social Mundial
Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais
Comitê Mineiro do Fórum Social Mundial


Entrada Franca

www.sinprominas.org.br

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Reproduzindo, agora, um texto do Boaventura publicado no Pedreira na Vidraça:


O IMPENSÁVEL ACONTECEU


O Estado deixou de ser o problema para voltar a ser a solução; cada país tem o direito de fazer prevalecer o que entende ser o interesse nacional contra os ditames da globalização; o mercado não é, por si, racional e eficiente, apenas sabe racionalizar a sua irracionalidade e ineficiência enquanto estas não atingirem o nível de auto-destruição.

A palavra não aparece na mídia norte-americana, mas é disso que se trata: nacionalização. Perante as falências ocorridas, anunciadas ou iminentes de importantes bancos de investimento, das duas maiores sociedades hipotecárias do país e da maior seguradora do mundo, o governo dos EUA decidiu assumir o controle direto de uma parte importante do sistema financeiro.

A medida não é inédita pois o Governo interveio em outros momentos de crise profunda: em 1792 (no mandato do primeiro presidente do país), em 1907 (neste caso, o papel central na resolução da crise coube ao grande banco de então, J.P. Morgan, hoje, Morgan Stanley, também em risco), em 1929 (a grande depressão que durou até à Segunda Guerra Mundial: em 1933, 1000 norteamericanos por dia perdiam as suas casas a favor dos bancos) e 1985 (a crise das sociedades de poupança).

O que é novo na intervenção em curso é a sua magnitude e o fato de ela ocorrer ao fim de trinta anos de evangelização neoliberal conduzida com mão de ferro a nível global pelos EUA e pelas instituições financeiras por eles controladas, FMI e o Banco Mundial: mercados livres e, porque livres, eficientes; privatizações; desregulamentação; Estado fora da economia porque inerentemente corrupto e ineficiente; eliminação de restrições à acumulação de riqueza e à correspondente produção de miséria social.

Foi com estas receitas que se "resolveram" as crises financeiras da América Latina e da Ásia e que se impuseram ajustamentos estruturais em dezenas de países. Foi também com elas que milhões de pessoas foram lançadas no desemprego, perderam as suas terras ou os seus direitos laborais, tiveram de emigrar.

À luz disto, o impensável aconteceu: o Estado deixou de ser o problema para voltar a ser a solução; cada país tem o direito de fazer prevalecer o que entende ser o interesse nacional contra os ditames da globalização; o mercado não é, por si, racional e eficiente, apenas
sabe racionalizar a sua irracionalidade e ineficiência enquanto estas não atingirem o nível de auto-destruição; o capital tem sempre o Estado à sua disposição e, consoante os ciclos, ora por via da regulação ora por via da desregulação. Esta não é a crise final do capitalismo e, mesmo se fosse, talvez a esquerda não soubesse o que fazer dela, tão generalizada foi a sua conversão ao evangelho neoliberal.

Muito continuará como dantes: o espiríto individualista, egoísta e anti-social que anima o capitalismo; o fato de que a fatura das crises é sempre paga por quem nada contribuiu para elas, a esmagadora maioria dos cidadãos, já que é com seu dinheiro que o Estado intervém e muitos perdem o emprego, a casa e a pensão.

Mas muito mais mudará. Primeiro, o declínio dos EUA como potência mundial atinge um novo patamar. Este país acaba de ser vítima das armas de destruição financeira massiça com que agrediu tantos países nas últimas décadas e a decisão "soberana" de se defender foi afinal induzida pela pressão dos seus credores estrangeiros (sobretudo chineses) que ameaçaram com uma fuga que seria devastadora para o actual american way of life.

Segundo, o FMI e o Banco Mundial deixaram de ter qualquer autoridade para impor as suas receitas, pois sempre usaram como bitola uma economia que se revela agora fantasma. A hipocrisia dos critérios duplos (uns válidos para os países do Norte global e outros válidos para os países do Sul global) está exposta com uma crueza chocante. Daqui em diante, a primazia do interesse nacional pode ditar, não só proteção e regulação específicas, como também taxas de juro subsidiadas para apoiar indústrias em perigo (como as que o Congresso dos EUA acaba de aprovar para o setor automóvel).

Não estamos perante uma desglobalização mas estamos certamente perante uma nova globalização pós-neoliberal internamente muito mais diversificada. Emergem novos regionalismos, já hoje presentes na África e na Ásia mas sobretudo importantes na América Latina, como o agora consolidado com a criação da União das Nações Sul-Americanas e do Banco do Sul. Por sua vez, a União Européia, o regionalismo mais avançado, terá que mudar o curso neoliberal da atual Comissão sob pena de ter o mesmo destino dos EUA.

Terceiro, as políticas de privatização da segurança social ficam desacreditadas: é eticamente monstruoso que seja possível acumular lucros fabulosos com o dinheiro de milhões trabalhadores humildes e abandonar estes à sua sorte quando a especulação dá errado. Quarto, o Estado que regressa como solução é o mesmo Estado que foi moral e institucionalmente destruído pelo neoliberalismo, o qual tudo fez para que sua profecia se cumprisse: transformar o Estado num antro de corrupção.

Isto significa que se o Estado não for profundamente reformado e democratizado em breve será, agora sim, um problema sem solução. Quinto, as mudanças na globalização hegemônica vão provocar mudanças na globalização dos movimentos sociais que vão certamente se refletir no Fórum Social Mundial: a nova centralidade das lutas nacionais e regionais; as relações com Estados e partidos progressistas e as lutas pela refundação democrática do Estado; contradições entre classes nacionais e transnacionais e as políticas de alianças.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Meu Morro, Meu Olhar

O projeto "Meu Morro, Meu Olhar" surgiu da vontade de mostrar às crianças do Programa Escola Integrada, moradoras do Aglomerado Santa Lúcia, outra forma de expressão artística, diferente das que elas já conheciam, como o desenho e a pintura. Para isso houve a necessidade de ensiná-las a reeducar o olhar em relação à comunidade onde funciona a Escola Municipal Ulysses Guimarães, localizada no bairro São Pedro, nas imediações do Aglomerado Santa Lúcia, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

A ideia de fazer o projeto surgiu de quando a professora bolsita do Programa Escola Integrada da Prefeitura de Belo Horizonte, Aline Guerra, descobriu que a escola dispunha de treze câmeras fotográficas analógicas novas. Esboçou o projeto, conversou com a coordenadora do Programa Escola Integrada na E. M. Ulysses Guimarães, Ana Paula Pego Fernandes, e então pensou que as crianças pudessem ter aulas de fotografia, com o foco nas artes plásticas, registrando sua comunidade e seu dia-a-dia.

Outra questão era reeducar o olhar das crianças, para que pudessem ver sua comunidade com outros olhos e para que fizessem um registro daquilo que lhes parecesse interessante. Assim, os alunos fariam uma análise de seus conceitos em relação à fotografia e mudariam de meros receptores de conteúdos para indivíduos críticos, fruidores e produtores de imagens. Entenderiam que fazer fotografia não é apenas apertar o disparador: é preciso haver sensibilidade, registrando um momento único, singular. Entenderiam que o fotógrafo recria o mundo externo por meio da realidade estética.

Com o projeto esboçado, um fotógrafo profissional voluntário, Jorge Quintão Jr., foi convidado a dar aulas de fotografia para as crianças, duas vezes por semana, junto com a professora bolsista Aline. O grupo de alunos foi composto por crianças com idades entre 11 e 13 anos e então partiu-se para a execução do Projeto; atualmente são 17 alunos participantes.


(Tirado do site oficial do projeto - www.olharcoletivo.com.br)

Fiz uma matéria pra Rádio UFMG Educativa sobre o projeto, que, diga-se de passagem, vai ser exposto no Café com Letras (Savassi, BH) até 27 de julho.

Confira aqui a matéria, em áudio. E vá ver a exposição. O Café com Letras fica na rua Antônio de Albuquerque, 781, na Savassi (entre Sergipe e Alagoas).