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sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Um continente esquecido

Definitivamente, esquecemos. Esquecemos que existe vida além do Meridiano de Greenwich. E abaixo da Linha do Equador.

Há um continente que está a míngua. Porque está, simplesmente, esquecido pelo Ocidente. A lógica capitalista impede de ver a África como um continente - e, por conseguinte, com um valor maior que qualquer produto de exportação: a vida.

Se nos preocupamos constantemente com o Oriente Médio, com a China ou com a Coréia do Norte - porque se convencionou a tratá-los como principais eixos de conflito - , esquecemos que os maiores banhos de sangue do mundo estão na África Subsaariana.

Tudo bem, o Irã preocupa os Estados Unidos de la America porque pode haver armas nucleares lá (mentira, todos nós sabemos que o foco da preocupação estadunidense é petróleo...). Mas se o Irã é preocupação porque incomoda o Sam, não se pode dizer o mesmo da África, já que ela nada tem a oferecer.

Talvez a única coisa que a África tenha a oferecer é a sua gente. Mas nem "isso" importa a nós. Sim, a nós. Todos nós, um dia, nos esquecemos que existe um continente que já foi parte do nosso em eras remotas. Esquecemos que o mundo ocidental existe por causa da mão de obra oriunda de lá. E como nós retribuímos? Com indiferença, "vidros fechados, gestos mudos do outro lado" (no caso, o lado de cá).

A AIDS afeta um terço do continente (aproximadamente). O Ebola foi (ou é) outra maldição. Sem contar a falta de saneamento básico, água limpa, tratamento médico, etc. E o mundo fecha os olhos, brinca de fingir que não vê.Não brinca, realmente finge.

Se alguém assistiu Hotel Ruanda sabe do que estou falando.


Havia um massacre sangrento em Ruanda, no ano de 1994. A princípio, pensava-se que as "forças de paz" da United Nations (Nações Unidas o ca&%$#!) fossem lá para dirimir o conflito. Acreditava-se que o principal objetivo da ONU fosse resguardar os necessitados. Hunf, ledo engano. As forças supra citadas foram para retirar os estrangeiros que estavam no país. Não para salvar o povo nativo.

[PARÊNTESIS: entenda a história do conflito aqui e aqui.]

E Ruanda morria. Afogada no próprio sangue. E toda a África, em certa consonância, se afoga. Em um sangue que se mistura com diversas pragas lá existentes. Pragas tais que vão desde o Ebola, o HIV até a indiferença, a conivência, o deixa-pra-laísmo.

Quem estuda Jornalismo fica conhecendo uma importante (e triste) lei que rege a lógica de noticiabilidade de um fato. Falo da Lei de McLurg, que estabelece uma "escala graduada", uma espécie de "escala de importância" em relação à distância de onde os fatos ocorreram do Ocidente. É simples:

- Um norte-americano vale, aproximadamente, 100 egípcios, 400 afegãos e 1000 chineses;
- O afogamento de 12 velhinhos no Canadá é mais visível que o estrangulamento de trezentos negros nigerianos;
- Um britânico que morreu da Gripe do Frango vai ganhar mais tempo na mídia que um país asiático contaminado pela mesma doença.
- A morte da diarista do Sérgio Cabral Filho (governador do RJ, um Aécio menos carioca) vai ganhar mais tempo na mídia que a morte de uma diarista comum porque, ora bolas, era a diarista do Sérgio Cabral Filho!
E por aí vai.

Digamos que a África faz parte dessa lógica McLurguiana. E o fato de esquecermos que ela existe começa aí. A África não vira notícia porque não gera dinheiro. Não gerando dinheiro, o continente não importa às ditas "nações desenvolvidas". Tudo aquilo que não importa às "nações desenvolvidas" não vira notícia. Não virando notícia, cai no esquecimento. É simples. É facto. É exacto. E é simplesmente desprezível.

Ah, mis amigos, a questão remonta à Neocolonização. E é mais complexo que se pode imaginar. Tentar resolver os conflios? Eu sei, é humanamente improvável. Quem sou eu para tentar resolver tudo que quero - eu sei. O que não podemos fazer é esquecer nossos problemas debaixo do tapete diplomático. E bem sei: a ONU é mestre nisso.

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