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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

"Você é mais machista do que consegue enxergar."

Antes de mais nada, essa frase foi dita para mim. Sim, por mais surpreendente que isso possa parecer, não me surpreende. Do ponto de vista da minha pessoa, quem me disse isso estava certo do que estava falando.

Esse alerta me foi feito numa situação pública. E chega em uma boa hora, para abrir uma discussão sobre o que a gente faz e o que a gente fala. Sem querer entrar em méritos, mas averiguando as ações das pessoas.

Quando ouvi essa frase, meu passado de atitudes machistas (e machonas) voltou como que num instante. Sem querer, eu tinha feito uma regressão em relação ao discurso que estou dizendo e das atitudes falaciosas que venho cometendo - muitas delas são imperceptíveis para mim. Mas justamente por eu não conseguir percebê-las, necessito do toque e da orientação do outro para balizar não os pensamentos (que, de certa forma, estão andando menos no caos), mas as atitudes que refletem certas inconsciências.

Todos nós vivemos num contexto social de pleno machismo, sexismo e tal. E não seria incomum nós ouvirmos frases como essa que eu ouvi e que dá nome ao título deste post. Quando não enxergamos as atitudes machistas que há em nós, acabamos por perpetuar o que já existe na sociedade - sim, mesmo que tenhamos um discurso avesso e de repulsa a todo esse comportamento retrógrado. Mas temos, às vezes, esse inconsciente retrógrado.

Tal como o pai ou a mãe que adverte o filho para não colocar o dedo na tomada, eu preciso de pessoas cuja consciência está mais presente nessas questões para me advertir do que faço, do que falo, do que penso. Pelo menos eu não tenho o desejo (consciente) de perpetuar essas velhas práticas que tanto me dão ojeriza. Mas acabamos reproduzindo, sem querer mesmo. Daí a importância das outras pessoas em sempre nos darem o toque, nos advertirem desses atos, nos cutucarem. Se não, as velhas práticas permanecem, e a gente sempre faz mais do mesmo.

Daí a importância de não se calar ao perceber uma atitude que te incomoda. Não advertir o outro causa um efeito negativo duplo: na pessoa que manifestou essa atitude, que vai continuar perpetuando esses atos de incoerência; e na outra pessoa que viu isso como negativo, porque vai acabar acumulando uma carga pesada por não ter dito na hora, ficando apenas se remoendo com o dito do outro.

É tarefa minha repensar meus atos, minhas atitudes e minhas formas de lidar com as coisas para que isso se alinhe com o que tenho defendido politicamente. Mas não custa nada um cutucãozinho dos amigos para me advertir que, na maioria das vezes sem perceber, eu estou fazendo isso errado.

Em tempo: aproveito a oportunidade para mostrar uma reportagem realizada sobre esse tema, em junho, depois da Marcha das Vadias. Foi uma produção para o Conexão Periférica, acho que vale a pena postá-lo aqui. E, de pronto, peço desculpas se em alguma atitude fui incoerente com meu discurso. Me cutuque sem medo. E se deixe cutucar, também - seja por mim, seja pelos outros.

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