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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Na Savassi ninguém dá dura

Era sexta-feira, 9 de novembro. Costumeiramente, eu vou ao Edifício Arcangelo Maletta, na Augusto de Lima com Bahia, tomar um café ou uma cerveja. Nada demais, só questão de frequência, mesmo. Mas, por uma ironia do destino - a chuva, que desanimara uma pá de gente de sair de casa - eu também não saí. Fiquei em casa, descansando, me preparando para a viagem do dia seguinte para São Paulo.

Durante o fim de semana, eu vejo um burburinho no Facebook sobre uma operação truculenta e pesada da Polícia Militar num espaço aí. Só que eu não tinha tido a oportunidade de ver o que tinha acontecido, e só hoje li sobre o quê se tratava, neste link:

Uma operação coordenada pela Polícia Militar (PM), na noite de sexta-feira (9), no Edifício Maletta, no Centro de Belo Horizonte, está sendo alvo de críticas nas redes sociais. Parte dos usuários relata ter presenciado cenas de abuso e truculência durante a ação.

Cerca de 50 militares teriam entrado no prédio por volta de 22:30 e bloqueando o único acesso pela avenida Augusto de Lima. Centenas de pessoas ocupavam os mais de 10 bares e restaurantes que ainda estavam abertos no local. Segundo os relatos feitos no Facebook, todos que saíram do edifício, a partir de então, foram revistados.

Vídeos disponibilizados no YouTube neste sábado mostram os policiais na entrada do prédio logo no início da operação. Eles usaram cães farejadores para buscar por drogas no local e concentraram os trabalhos no segundo andar do Maletta.




A ação teria sido organizada após denúncias feitas por moradores incomodados com um suposto esquema de tráfico no edifício. Diante da falta de informações sobre a operação e discordando da agressividade nas abordagens, frequentadores dos bares e restaurantes começaram a gravar a movimentação com aparelhos celulares.

Neste momento, alguns militares teriam se irritado e mandaram que todos parassem de filmar. No Facebook, pessoas que estavam no local narram que, a partir desse momento, aconteceu uma sequência de ações abusivas. Aqueles frequentadores que se negaram a desligar os celulares, tiveram os aparelhos apreendidos. Outros chegaram a ser detidos.


Tudo bem se a Polícia Militar quer mostrar serviço, está na sua obrigação. Ela exagera na maioria das vezes na abordagem - o dia que eu estava em Lagoa Santa (região metropolitana) esperando de noite um ônibus para ir embora, e o policial me abordou de dentro da viatura apontando a pistola para o meu rosto, diz um pouco disso.

Eu sou um frequentador do Maletta, dos cafés e dos bares. Há sempre companhias deveras agradáveis naquele espaço, sebos muito bons, espaços alternativos de convivência. Passei - e passo - várias horas da minha vida ali. Conheço, inclusive, pessoas que viveram o passado do Maletta, à época que ele era notícia de jornal quase todo fim de semana (isso, na década de 1970). E eu sou uma testemunha de não ter visualizado nada de grave ocorrendo naquele espaço. Até porque, por causa de um regulamento interno, você só pode ter acesso aos bares da varanda antes de 23h, depois desse horário o segurança passa a corrente, e se você está dentro não pode sair, e vice versa.

A controvérsia dessa situação está no fato de ela não acontecer em diversos outros espaços que, assim como o Maletta, são tidos como "ponto de consumo de entorpecentes". E a cerveja nossa do fim de semana, ela é o quê?

Indigna-me não a ação da PM, mas ela se restringir a somente alguns espaços. Não estou muito certo se na Savassi ou no Seis Pistas (ambos na Zona Sul) o povo somente consome vinho barato, e não outros baratos. Se a alegação para a ação é uma denúncia dos moradores, enfrentamos aí outro problema: o caráter reativo e não preventivo-ostensivo da Polícia. Traduzindo em miúdos, só reage se alguém chamar. Isso fica claro naquele caso do jornalista que foi espancado por skinheads na... Onde mesmo? Savassi! Mas com um grande porém: mesmo com o corpo sangrando, Juliano Cardoso de Azevedo e seu amigo (que também apanhou severamente) não conseguiram sequer fazer o BO - que, na linguagem popular, recebe uma conotação que eu não posso dizer aqui sob pena de calúnia.

O caráter apenas reativo da Polícia é preocupante, isso não é garantia de segurança a mim como cidadão. Mas não é isso que vai me fazer ficar preso dentro de casa.

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