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sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Uma crise para burguês crer

Depois que o avião da GOL caiu na fechada mata amazônica em setembro do ano passado, falar de avião virou modinha na televisão. E já está virando um inferno.

Ok, Ok. Estudando as Teorias do Jornalismo, eu bem sei que, quando acontece um fato estupendamente grande, como esse fatídico acidente, a mídia toda fica falando só de avião caindo. Eu gosto de chamar isso de efeito ímã: um acontecimento puxa vários outros semelhantes ao mesmo tempo, e você tem a impressão de que andar de avião é uma coisa temerosa. A bem da verdade, não precisa ser jornalista (ou estudante de) para saber que isso acontece. É fato. Mas, do jeito que a coisa está, fica insuportável assistir a um Bonner todo dia de luto. (Quiçá poderia ele imitar o Clodovil de novo, só que dessa vez ao vivo, e dizendo: CANSEI!)

Ah, sim, claro. Isso é para fazer com que a classe média creia que há uma desordem geral na configuração aérea do país. Que tá tudo uma puta zona (não zona de puta). Classe média tem condições de pegar avião. Só anda de busão quem é ralé, ora bolas. Apenas recentemente é que pessoas de menor poder aquisitivo podem, de vez em quando, pegar uma classe econômica e ver a praia, graças à GOL – justamente a empresa do avião então acidentado.

A Rede Globo ficou “em polvorosa” quando o avião caiu. O Brasil ficou, por supuesto. Os cabelos ficaram em pé, foi um acidente cabuloso. E a parte recaldada da classe média berrou: é um apagão aéreo. Diz o ditado que “o que vem do alto nos atinge”. Isso é verdade: um avião caindo realmente causa um puta estardalhaço. Mas eu penso: se se causa tal alarde por causa dos aviões, onde que entram as famigeradas estradas brasileiras nesse contexto? Se avião mata, estrada também não? O apagão é crise para a classe média ver? Bom, um dos argumentos utilizados é o de que avião mata mais em menos tempo. Caiu, “cabou”. E se a gente comparar a quantidade de mortos nas estradas e no ar? Se não for o mesmo, há a tendência de o número de mortos em estradas ser até maior. Só que não mata de uma vez – e geralmente quem morre nas estradas não é aquele empresário que foi passar férias em Búzios, mas a mãe de família que lutou o ano todo para pagar a passagem da capital do interior para ver os parentes. E ela não é classe média.

Encheu o saco! Depois do acidente da TAM e do jatinho que caiu domingo passado em Sampa, não tenho mais sossego. Um avião escorregou num quiabo que estava na pista e lá vai Bonner reclamar de más condições dos aeroportos. Não que nossa malha aeroviária seja uma Brastemp. É importante fazer esse tipo de cobrança, mas desde que seja de forma moderada. E outra: cobra-se muito pelos aviões, por que não cobrar pelos ônibus? Para agüentar a Sinfonia do Pessimismo, não há dó menor nem ré-médio que funcione.

Um comentário:

Anônimo disse...

Por favor, passa lá no blog do FRCC. Preciso da sua opinião sobre uma decisão que tomei. http://blogsdequalidade.blogspot.com