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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Empatia e alteridade na selvageria do egoísmo

Empatia e alteridade. Por que as palavras se interconectam?

Vejamos a Wikipédia:

Empatia: resposta afetiva vicária a outras pessoas, ou seja, uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa, e não à própria situação. O termo foi usado pela primeira vez no início do século XX, pelo filósofo alemão Theodor Lipps (1851-1914), para indicar a relação entre o artista e o espectador que projeta a si mesmo na obra de arte.


Alteridade: concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e interdepende do outro. Assim, como muitos antropólogos e cientistas sociais afirmam, a existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o Outro - a própria sociedade diferente do indivíduo).


Existe um fator simples que faz com que os verbetes empatia e alteridade estejam, de alguma forma, conectados. Se empatia é a capacidade de se colocar na pele do outro, respeitá-lo e compreender a sua forma de ser, de viver, de falar, ainda que em âmbito individual, não podemos nos esquecer que estamos imersos em um mar cultural que me impele a lidar com o outro. Se eu lido com o outro com empatia, compreendendo a sua especificidade, isso dentro do contexto social é alteridade. É o reconhecimento de que aquilo que você não é pode também ser respeitado, preservado e dignificado.

Alteridade está para a coletividade assim como a empatia está para a individualidade. Não falo de individualismo, mas do reconhecimento do sujeito em si mesmo. É complicado pensar em ser empático se não há o reconhecimento da alteridade, e não vejo possibilidade de exercer alteridade sem a citada empatia. Vejamos, no caso das religiões.

Recentemente aconteceu o atentado ao jornal Charlie Hebdo, em Paris (França). Não vou nem linkar nada, tá todo mundo recebendo rios e mares de informações - muitas delas truncadas - sobre o assunto. Está se atribuindo a culpa a extremistas islâmicos porque o periódico fazia piadas com Maomé, com os muçulmanos e afins. Fora dessa questão do humor, se foi adequado ou não, eu pergunto se há empatia em querer eliminar o outro apenas por eu discordar dele. Oras, se não há empatia, não há respeito pela sua alteridade; o individualismo egoico fala mais alto (eu eu eu eu eu eu eu e de novo eu) e suprime e anula o outro. Não concordo com o que você disse - BUM! te mato - pronto, aniquilei o outro. E ser empático com esse tipo de atitude não é a empatia que estamos dizendo aqui. É outra coisa, talvez simpatia, talvez certa camaradagem; empatia é que não é.

Diante desse cenário horroroso que aconteceu na capital francesa, surge também um questionamento sobre o respeito dos franceses nativos aos imigrantes, muitos deles oriundos de países outrora colônias da França - como a Argélia. Esse atentado pode (não só pode como vai) despertar a sanha fascista de querer eliminar aquele que te incomoda, aquele que você não quer que faça parte daquilo que você faz parte. Está se abrindo um flanco enorme para a que a ultradireita, racista e xenófoba, possa ter voz e vez. E o maior representante francês dessa ala é Jean Marie Le-Pen, o Pastor Everaldo das Europas. (A bem da verdade, pego pesado em comparar Le-Pen com Everaldo. São alas distintas de disseminação de preconceitos. Mas são perniciosos e perigosos.)

Essa classe de pessoas não acredita na alteridade como forma de sobrevivência da sua nação. Não veem na interação com outras culturas uma forma de, quiçá, dignificar a sua própria. São alheios, avessos à mistura. Sim, são pessoas que podem fazer tudo para colocar "as coisas no seu devido lugar" - pretos nos guetos, judeus no gás, gays nas masmorras, e por aí vai. Como não são nada empáticos com o que lhes é diferente, são completamente anti-alteritários.

Já que citei Everaldo... E o que dizer dos (sempre eles) evangélicos extremos que, vez ou outra, quebram imagens de Nossas Senhoras, de Iemanjás e destroem templos que não são afins à sua concepção, por mero ensejo de se proclamarem como “a verdade”? No ano retrasado, eu li uma reportagem do jornal O TEMPO sobre a opressão que os terreiros de umbanda e candomblé têm passado em Belo Horizonte por conta da ofensiva neopentecostal. Oras, se o Cristo ama a todos e a todas, ele não vai amar o praticante da religião afrodescendente por que motivo? Eu disse O CRISTO, não o Deus o Velho Testamento - que, geralmente, é proclamado nessas atitudes que eu considero de uma imbecilidade tremenda. Chega a ser engraçado quando, para dizer de amor, atualiza-se o discurso para aquilo que é mais novo - os evangelhos -, mas para falar de aceitar os outros lá vamos nós ao paranoico Levítico.

E eu posso dizer que passei por um grave momento de falta de empatia no ano passado. Prefiro não citar nomes para não ser arrolado em processos judiciais, mas eu já confidenciei a pessoas muito próximas a mim a minha vontade de eliminar da face da terra um certo gestor municipal que trabalha no 1212 da Afonso Pena. Tenho a plena certeza de que eu não era o único (rsrs), mas talvez seria um dos poucos que poderia, por meios diversos, colocar em prática esse plano. Por mais que essa pessoa enchesse nossa paciência municipal; por mais que ele tenha se mostrado como uma pessoa deveras inacessível, que não dialoga, de uma ironia que irrita; por mais que esse cara seja apenas um administrador que esquece as sensibilidades da cidade que administra, gerindo a cidade como empresa; por mais que tudo isso me subisse aos tetos do nervosismo, uma pessoa muito querida me fez enxergar que executá-lo a sangue frio não iria adiantar nada, somente iria piorar a situação e fazer com que mais sangue pudesse ser derramado, sendo a lei mosaica colocada em prática - “olho por olho, dente por dente”. Olha aí o Velho Testamento do Deus Vingativo de novo atuando.

Empatia não é assassinar aquele que te desagrada. É lidar com o desagrado de quem lhe desagrada para que seja possível - ele e você - caminhar juntos. Se o desagrado do outro é tão grande que te desagrada, então pula fora. Se preserve. Tudo nessa nossa vida louca se coloca como efêmero, passageiro e transitório. Em vez de matar quem te fere, por que não se ajustar e buscar novas oportunidades? Pode parecer estranho o que direi, mas isso é um ato de amor. Amar o amigo é super fácil, tá ali do lado mesmo, acessível ao cafuné; agora, vai tentar dar um abraço afável naquele que te olha torto - isso, é ele que te olha torto, é ele que te abomina; por uma questão energética, que tal você (pode até não passar a gostar, mas) não emitir mais ondas vibracionais densas e escuras? Vai abrir o seu horizonte para outras formas de lidar com tudo e com todo mundo. Isso já é minimamente um ato empático.

Odeie e será odiado. Lei de ação e reação - ou, como diz BNegão, “tudo é vai e volta”.

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