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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Assim caminha a nossa cidade

Não, eu não consigo me conformar. Podem falar o que quiser. Mas eu não me conformo. Vou contar uma história.

Acreditem se quiser, mas eu, com 23 anos de idade, nunca tinha saído de Minas Gerais. Nunca, pelo menos nesta encarnação. O mais longe de Belo Horizonte que já fui é Poços de Cadas, região sul, a 8 horas (ou mais) da capital. Fui por conta de um festival de corais, em novembro de 2005, em comemoração ao aniversário da cidade.

Por conta das minhas questões financeiras, nunca pude viajar como eu quis. Amigos meus visitavam o Hopi Hari, o Rio, Salvador. Eu me contentava com Ribeirão das Neves, Nova Lima e, quando mais distante, Lavras - minha segunda cidade. Quase fui a Trindade (RJ), próximo de Paraty, em 2007; mas não se concretizou a minha ida.

Mas comecei a juntar uma grana por conta dos meus trabalhos, bicos e afins. E botei na cabeça de fazer um passeio por mês. Seja perto, seja longe. Chega março de 2010 e eu fico sabendo da Virada Cultural de São Paulo. Botei na cabeça que viajaria e assim fiz. Arranjei um esquema de excursão cuja passagem - ida e volta - me custou a bagatela de R$ 80,00. (Obrigado, Melzim Corp.!) E dois dos meus amigos ainda ofereceram a sua humilde residência, em Pinheiros. E, claro, me explicaram como fazia para chegar. Avisando que eu ia descer na Praça da República, ele me disse o seguinte:

- Você vai até o Metrô República e pega o Linha Vermelha sentido Corinthians-Itaquera, e desce na Sé; na Sé, você faz baldeação: desce e vai pegar o Linha Azul, sentido Jabaquara, e desce na Paraíso; na Paraíso, você faz outra baldeação e pega o Linha Verde sentido Vila Madalena. Aí, você desce na Clínicas...

Clínicas era o "ponto final". Eu ainda tinha que descer 11 quarteirões da Teodoro Sampaio em seguida.

Eram 15 de maio quando desembarquei na República. E uma sensação diferente me invadiu - de não estar mais em Minas, de ter podido sair do estado, de ter conhecido algo além das montanhas alterosas. Não era meramente visual (a cidade é realmente cinza, frenética e poluída), mas chegava a ser espiritual.


Pois bem, eu e minha companhia de viagem descemos e resolvemos comer algo. Mas, antes, passamos na 25 de Março. O inferno na Terra, mesmo. Topamos com o Mercado Municipal e resolvemos bater um lanche. Nada muito caro, só um pastel e um refresco que custaram R$ 7,50. Só isso.

Abastecidos, subimos ao metrô São Bento, perto da 25, rumo a Pinheiros. E impressionado fiquei com a quantidade de gente que tem naquele transporte. Entramos - era já o trem da Linha Azul, e fomos direto a Paraíso. Ao que descemos nesta estação para baldear, piso a plataforma e o Linha Verde já aparece para mim. Cronometrado milimetricamente. "Caralho! Não deu nem pra descansar a mochila!" Eu e minha amiga ficamos bestas. Não só com a sincronia mas também com o pouco tempo entre as estações: se for 1 minuto é muito. Eu me sentia aquele cara do interior pela primeira vez na cidade grande. Beagá não é nada perto do que vi - o próprio centro de São Paulo é uma coisa desproporcional.

Quando fui a Sampa, me impressionei bastante com a Galeria do Rock, com a Paulista, com a Augusta, o Largo do Arouche, a Rego Barros, a Praça Roosevelt, o Largo de Santa Ifigênia, o Viaduto do Chá, o Vale do Anhangabaú, a própria República, a 25 de Março, o Mercado Municipal... Me impressionei com tudo isso, mas me choquei mesmo foi com o metrô.



Em BH, segundo o site do MetrôBH, 144 mil usuários/dia é a taxa de uso da única linha de metrô da cidade. Sendo que somente a capital tem por volta de 2.400.000 habitantes, o nosso trem atende a seis por cento de toda a cidade. Já em São Paulo... São 2,4 milhões (toda a BH) usando o metrô por dia. Estimando-se a população em 15 milhões, digamos que o metrô da maior cidade do Brasil e suas quatro (em breve cinco) linhas atende a... dezesseis por cento da cidade! (Isso sem contar os trens da Companhia Paulista de Trens Urbanos - a CPTM, que opera o que aqui chamamos "metrô".)

A comparação de números aqui só a faço para uma coisa: em BH, estamos caminhando em um perigoso círculo vicioso se uma medida drástica não for feita (leia-se expansão da linha 1 para o Aeroporto e para Betim e planejamento de pelo menos mais duas linhas subterrâneas - por que tem-se tanto medo de se fazer túnel aqui?). O metrô é, por enquanto, uma das melhores saídas para desafogar o tráfego urbano.

E como estamos hoje? Vamos lá.

O nosso transporte é dependente de ônibus, e quem os gerencia é a BHTrans. De três anos para cá, ela tem diminuído a quantidade de viagens dos coletivos urbanos (só dar uma olhada nos quadros de horários: o espaço entre as partidas tem aumentado). Sendo que a população é tendente a aumentar, aumentando-se o espaço entre as viagens aumenta-se a lotação. As pessoas andam cada vez mais desconfortáveis, e muitas delas têm que esperar o próximo no ponto de tão cheio que os coletivos passam. E esse descontentamento é que dá o start para o aumento de carros na cidade - já estamos na proporção de 1 carro para 2 habitantes, e pior: ninguém dá carona. Aumentam os carros, diminuem-se os ônibus, lotam-se os coletivos, engarrafa-se o trânsito... E assim vai, numa espiral que ocasionará o caos completo em 2014, se nada for feito. Precisa esperar muito não: ontem, do Santo Antônio até a Pampulha, via Pedro II/Catalão, num trajeto que demora 55 minutos, gastei 1 hora e 45 minutos. E não tinha acidente nem jogo no Mineirão: era trânsito mesmo...

Enfim... São Paulo é solução? Lógico que não. Mas claro que serve de inspiração. Acho que vou encomendar uns carvões de lá para alimentar nossa máquina a vapor Eldorado-Vilarinho.

Um comentário:

Olga disse...

Adorei teu blog exatamente por esta postagem sobre SP! Esse lugaar realmente super agitado,lotações máximas, contato entre pessoas mínimo... porém, é esse anonimato e "frieza" que me encantam! Sou do MA, lugar de pessoas literalmente quentes, mas gosto muito de SP.Por conscidência a última vez que fui fiquei no bairro Pinheiros e tinha sempre em mente essa estação:Clínicas, pra eu não me perder na multidão.

^^