Assim é a descrição de Miguel de Deus na internet, contando um pouco do seu histórico musical:
Miguel de Deus foi um dos músicos mais versáteis dos anos 70, e ao mesmo tempo menos conhecido do grande público. Miguel nasceu em Ilhéus, na Bahia. Já morando no Rio de Janeiro em meados de 1969, formou a banda “Os Brazões” que explorava as influências africanas na música e na maneira de vestir e dançar. A banda fazia uma mistura de rock e psicodelia com elementos da música brasileira e africana e chegou a acompanhar Gal Costa em uma de suas turnês no final dos anos 60. Em 1974, Miguel de Deus criou a banda “Assim Assado”, muito bem “inspirado” no grupo Secos e Molhados.
Em 1977, Miguel de Deus criou talvez o LP mais obscuro da black music setentista brasileira, o disco: “Black Soul Brothers”. Convidado pela gravadora Copacabana para registrá-lo, o disco é exercício glorioso do movimento black brasileiro. Ilustrado por um poderoso cabelo black power na capa, Miguel registrava naquele momento a sua verdadeira faceta, essa que esteve presente sempre em todas as fases musicais que desfrutou. Envolto no mais puro clima de festa, Miguel de Deus gravou Black Soul Brother exatamente como quem fazia parte da música pela festa, e não o contrário.
Bem... Minha experiência com esse cantor é algo muito digno para mim.
Essa descrição aí de cima veio do blog Black Broder, dos bróderes do Black Sonora - banda de BH que é uma das minhas favoritas no circuito local. Fiquei curioso ao ler o post acima. Baixo ou não baixo? Escuto ou não? Experiência sem volta.
Indubitavelmente, o álbum "Black Soul Brothers" foi o álbum do ano de 2009 para mim. Não de lançamentos, de novidades - nessa categoria entra o "Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos", do Otto. Mas eu falo desse em outra ocasião -, mas de descobertas. Adepto da banda larga somente em março de 2010, tive que baixar o disco em outro computador que não o de casa para poder saciar a minha curiosidade. E não me arrependo.
"Black Soul Brothers" é uma viagem sem volta. Assim como você não regride na evolução, eu me senti impulsionado a descobrir mais esse cabra. Baixei o "Os Brazões", no seu tropicalismo ao extremo. Agradei logo de cara, por ser uma coisa leve, tropical - faltava só o abacaxi do lado, num pratinho, coberto de açúcar, para servir de petisco enquanto se ouve o disco. Mas aí veio o "Assim Assado".
"Disco denso esse", pensei, quando coloquei no player para rodar. Não consegui gostar de cara. Era muito difícil a digestão - era como comer uma feijoada completa em um dia ensolarado na praia. Ou seja, não desceu de cara. Mas como todo prato pesado tem a sua época para comer, esperei um pouco e fui degustando aos poucos. "Assim Assado" foi o momento mais... Sem palavras de Miguel de Deus.
Donde cabe dizer que "Black Soul Brothers" é uma viagem sem volta porque:
1. o álbum é deliciosamente dançante: é um soul misturado com pitadas de psicodelia e arranjos instrumentais incríveis. "Cinco Anos", a 1ª faixa, resume-se a um parágrafo com quatro versos, mas é impossível você ligar para isso com um naipe de metais indecente como aquele e uma linha de baixo feroz - linha tal que me lembrou a igualmente foda "Amor", de Secos & Molhados;
2. Miguel de Deus é a virtuose em si. Quem considera que conhece tudo de música, favor considerar o Miguel porque ele é louco nas suas viagens musicais. Não há como você ser o mesmo depois de ouvi-lo. Estranho isso, mas é o que ocorreu comigo;
3. é uma grande referência para quem gosta de Soul. Porque é feito de um jeito igual no modo mesmo de se fazer Soul, mas diferente na prosódia, na acentuação rítmica. É mais inquietante que um James Brown ou um Jacksons Five, por exemplo;
4. por último e não menos importante, o cara é um completo obscuro! Não se conhece Miguel de Deus como deveria - não falo em torná-lo Deus, mas falo de um processo de resgate, como feito com o excelente Tim Maia Racional (além do "Uh! Uh! Uh!, que beleza" tem mais viagens nessa história). Um trabalho que seria gratificante aos amantes de música black e ao próprio Miguel de Deus, caso esteja vivo (o cara é tão obscuro e pouco famoso que eu nem mesmo sei se ele tá vivo ainda!).
Enfim, vale dar uma ouvida nessa fábrica de mistérios. Clique aqui para o sol entrar e pegar você desprevenido.
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