É quarta de cinzas, mas parece que o Carnaval de Belo Horizonte não teve seu fim ainda. A cidade que outrora era refúgio dos avessos à folia, mostrou todo um potencial a ser explorado (mercadologicamente falando) em relação às festas de e na rua que ocorreram desde o dia 2 de fevereiro. Nesse dia, iniciou-se o pré-carnaval com o Bloco Mamá na Vaca (que se concentra na Praça Cairo, no Santo Antônio, e desce a rua Leopoldina até a Contorno) e com o S.E.N.S.A.C.I.O.N.A.L., evento de música independente que, em sua quarta edição, enfrentou uma chuva um pouco forte que não desanimou os foliões que lá estavam. Pelo contrário: os shows das bandas independentes convidadas a tocarem no Festival deram a tônica e o calor da coisa. Entrou numa fria quem não teve lá.
Falando em fria, não tem como falar de Carnaval sem, infelizmente, citar a Prefeitura. É, eu queria só falar de coisa boa, mas o povo do 1212 da Afonso Pena não deixa.
Uma coisa é certa: o Carnaval de Rua de Belo Horizonte deu muito certo em 2013. Graças à população, que se mobilizou e fez o negócio na tora - porque, se dependesse da Empresa de Turismo de BH, a Belotur, as coisas não seriam tão felizes assim. Primeiro, pelo fato de a empresa soltar um edital de apoio aos blocos - cujo critério fundamental é ser pessoa jurídica. Haja PJ para tanto bloco, amigo! O outro é um fato recente, que culminou no contato do ECAD (a obscura empresa arrecadadora de Direitos Autorais) com os responsáveis pelos blocos, dizendo que, como a Belotur não tinha entrado em contato com eles para saber a questão do pagamento dos direitos, eles (o ECAD) tiveram que acionar os blocos para ver essa questão.
Me preocupa deveras essa postura intransigentemente distante da Prefeitura. Preocupa-me o fato de que o Carnaval das escolas de samba, na Praça da Estação, ter que ser gradeado, cercado, cheio de catracas e roletas e acessado somente por um ingresso que você tem que pegar antecipado. É uma Prefeitura que faz com que a cidade seja para poucos, que tem que cumprir requisitos (consideravelmente fascistas, separadores e desagregadores) que somente visam dificultar o acesso, a chegada.
Outra postura que preocupa em relação ao boom que 2014 terá com nosso Carnaval é o fato de Belo Horizonte não contar com uma mobilidade decente. Com um tanto de gente se deslocando pelos bairros (de Barreiro ao Concórdia, do Centro a Santa Tereza), pede-se desesperadamente por um táxi tal como um andarilho suplica por água no deserto. Sim, desertas ficam, também, nossas esperanças de conseguir uma lotação para ir ou vir - todas encontram-se com o horário super reduzido e, mais, algumas deixam de circular parcial ou integralmente; significa dizer que a cidade anda pululando de coisas e a BHTRANS, sutilmente, dificulta o seu caminhar pela cidade. Nem isso ela deixa, meu Deus...
E é melhor pegar com Ele mesmo, porque, se depender da Prefeitura de Márcio Lacerda, o "prefeito" pode transformar toda a alegria de uma cidade que se revolta e se rebela contra ele e contra seus ditames no veio mais vil e tenebroso do Marketing Institucional. Imagine que 2014 será ano de Copa do Mundo, com Belo Horizonte sendo uma das doze cidades-sede. Imagine que em 2014, Márcio Lacerda será ainda "prefeito" da cidade - ou, quiçá, quererá galgar pontos mais altos das Altas Câmaras - estou falando do Governo de Minas (se isso acontecer, preparem-se para serem governados por uma pessoa que um dia disse que estaria do lado de quem estivesse contra o Márcio e que agora é amigão de sauna dele). Imaginou? Pois é.
Foram mais de 70 blocos pela cidade nos últimos quinze dias - contando o pré carnaval, que se iniciou, como eu disse acima, dia 2 de fevereiro. Teve gente que saiu de São Paulo para poder viver o Carnaval daqui. Eu deixei de subir para Olinda/Recife por ter ouvido de amigos meus que o Carnaval aqui ano passado foi uma delícia. Tomara que esse movimento continue livre, espontâneo, feliz - como foi o Carnaval 2013. E espero sinceramente que Márcio e seus asseclas não queiram regular demais a porra toda, colocando cordas para separar a "galera do bloco" do "resto da rua", como acontece em Salvador. Espero que o povo continue fazendo a farra na rua, sem necessidade de intervenção policial por causa de Lei de Silêncio; que a Prefeitura, como seu dever, ajude os blocos a se manterem com o mínimo de estrutura - banheiros químicos e espaço para os ambulantes circularem com a cerveja; que Márcio Lacerda se sensibilize (se isso algum dia for possível, pois eu particularmente acho difícil) que não é gradeando os espaços e separando por catracas que se resolve o problema da segurança dos que estão curtindo o Carnaval, mas tal xenofobia só aumenta as tensões e faz esse "prefeito" ser cada dia mais odiado; que dá para ser feliz com pouco, basta apenas um incentivo aos blocos encabeçados por pessoas físicas - essa coisa de ter tudo institucionalizado embrutece cada vez mais o ser humano.
Por enquanto, o Carnaval é findo. Mas 2014 vem chegando aí. Não vou ser pessimista, jogar água no chope e falar que a Copa vai acabar e foder com tudo. Tomara que não. Ano que vem estarei eu aqui, novamente, curtindo o Carnaval a minha cidade natal - um Carnaval que há tempos eu não via por aqui: uma festa de rua, uma celebração com os que estão na rua, uma alegria para os que ficam na rua.
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