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domingo, 1 de março de 2015

03:57-Insônia

Desperto-me. Estou no quarto. Parece que vai ser mais uma crise.

Tento me virar de um canto a outro. Faz calor, a janela está entreaberta. O lençol acolhe o meu corpo.

Abra os olhos. Olhos despertos. Olhar aberto. O teto é o único ponto de referência.

Viro-me. Tento me encontrar na cama. Não dá. O calor me incomoda, mas se eu tiro o lençol sinto frio. Resolvo me levantar. E ir ao banheiro - acordar para ir ao banheiro é uma coisa rara de acontecer. Mas que tem sido frequente.

No movimento de despertar, segundos antes de ir ao banheiro, surge um pensamento.

Por que acordei? Por que estou desperto?
De novo isso? Por quê, Espiritualidade?

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Não me são comuns crises de insônia. Eu tenho certa facilidade em dormir, pegar no sono é de boa para mim. Insônia em mim poderia ser, talvez, um sinal de mudança de hábito. Ou de preocupação.

Sim. Preocupo-me às vezes em demasia. E eu sou meu principal alvo.

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Relógio marca 3 horas, 57 minutos. Depois do banheiro, um copo de água. Desligar o rádio que adormeceu cantando. E tentar pegar no sono de novo... Ou ligar a TV e tentar ver alguma coisa? Já fiz isso uma vez, deu certo, mas não foi muito produtivo, o sono seguinte foi pesado e intermitente. Dessa vez, voltei para a cama. Preocupado em querer dormir logo, chegar a manhã logo.

Não deu. O teto, a parede, a cama foram meus cenários. Não uma paisagem onírica. Era tudo muito real.

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Despertar-se e se perceber em insônia é como acordar de um sonho bom por ter caído num buraco. A sensação é desconfortável, você vira de um lado a outro e não encontra nenhuma âncora que possa te deixar aprofundar no sono.

Passam-se minutos. Vários. Quase uma hora. Para que enfim eu adormecesse novamente.

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Não são seis horas. Começa o tilintar de alguns pássaros. Lá vou eu de novo ao banheiro. Que diacho, essas idas todas lá têm um pano de fundo que eu não tô conseguindo entender. E não é pouca urina, mas até uma quantidade razoável. O que meu corpo está produzindo que quer tanto expulsar? O medo de não conseguir adormecer novamente? A vontade de impulsionar as coragens adiante?

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Sete horas. Oito horas. Dorme, Bruno, dorme. Ouve os pássaros e dorme. Tenta relaxar.

Tento deixar o corpo leve, mas algo, alguma coisa, me pesa. Me sinto acorrentado, quero correr, mas não consigo. E fico numa expectativa de, na próxima noite, poder dormir melhor.

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Insônias podem me ensinar a me reencontrar. A buscar um caminho para retornar ao sono e, na hora adequada, acordar. Elas me cansam, me deixam o corpo pesado, mas são momentos também de reflexão. A principal pergunta: por que estou acordado se poderia estar dormindo? Ou, melhor, por que acordei na hora de dormir? Não, não era simplesmente para ir ao banheiro, eu realmente não tenho esse costume. O que uma noite insone pode me mostrar?

Que, talvez, eu necessite ter mais tranquilidade. Mais equilíbrio. Estou vivenciando um processo interno (e exterior) de mudança, de transformação. Já me disseram de alguns aspectos que mudaram em mim - e eu mesmo me percebo diferente, como estar mais chorão. Sim, dá vontade de chorar quando acordo com insônia. Porque bate um desespero de "e agora, será que vou ficar o resto da noite acordado?".

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Lembra quando eu disse que estava passando por uma reforma em casa? Ela está bem avançada, diga-se de passagem. Tenho contado com a ajuda de várias pessoas - deste e do outro plano - para poder me manter firme no propósito. Sim, eu persisti em me arrumar para te perceber e, veja você, rolou algumas boas notícias. Mas mesmo se você ainda não se sente confortável em pousar aqui, eu te convido a entrar, visitar e assentar morada. Talvez a insônia seja a preocupação (antecipada) de saber a hora que você vai chegar.

Tenho o hábito gostoso de receber as pessoas em rodoviárias e aeroportos. Nunca é um momento chato e entediante para mim, pelo contrário. Saber que aquela pessoa vem naquele ônibus ou naquele voo e que o ônibus e o voo estão a caminho é algo que me deixa esperançoso e confiante na sua chegada. Pode ser que a insônia seja uma manifestação dessa ansiedade, da hora (exata) do pouso, da chegada do ônibus, do desembarque, do momento de pegar as malas e, depois, do momento do abraço de retorno, de chegada. Não é qualquer abraço, mas mais do que uma pequena morte, é um momento de aperto, de afago, de acolhida.

Para além de um abraço físico, o abraço da chegada é aquele que recebe com tudo que aquele que espera tem de bom para doar. O momento do retorno é aguardado tanto por quem chega quando por quem recebe no terminal. E que momento gostoso é poder retornar aos braços de quem você gosta, de quem você ama, de quem você quer estar do lado. Que potência tem um abraço que, para além de abraçar, agarra e afaga.

Foi a partir de uma reflexão sobre a insônia que cheguei aqui. Veja se não é algo que, novamente, temos que agradecer...

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