Para mim, mesmo? Não tem significado. Melhor dizendo, existe um significado vazio, que não completa.
É fácil ser amistoso, ser amigo, leal e companheiro, amar a família, querer o bem a todos nessa época. Muito fácil ser coração aberto durante um dia. E essa sua humildade e benevolência de Madre Teresa está presente durante todo o ano?
Nada me aparece mais falso do que o famoso "espírito natalino". Então quer dizer que, durante 364 dias, eu posso foder com a sua vida, ser um mascarado que não te cumprimenta e, no Natal, te abraçar como se fosse seu melhor amigo íntimo? Amigo, na boa, vai te foder.
Leve com você esse "espírito natalino", que mais parece "espírito de porco". Coma seu peru, encha a sua boca de farofa, engula o seu vinho. Mas não venha vomitar tais impropérios e sandices na minha cara. Que eu não sou obrigado a compactuar com isso.
Natal é a minha época de fossa voluntária. Eu me permito, voluntariamente, a ficar deprimido. Tenho algumas razões que podem explicar isso, mas não vou enumerar tudo porque posso parecer prolixo. Mas são duas os principais motivos de eu condenar o Natal e considerá-lo a pior época para mim:
- É no Natal, uma época que deveria ser reflexiva e pensativa, que utilizamos das nossas cognições apenas para escolher o melhor presente ao nosso amigo oculto e/ou familiar. Os shoppings ficam insuportáveis, as ruas do Centro ficam intransitáveis, fica tudo uma correria descambada. E para que isso tudo? Porque não se pode passar o Natal "em branco". Ou seja, a representatividade do ato de dar um presente ultrapassa a necessidade da reflexão da data. Eu fico mais preocupado com o presente que vou dar que com a data em si. Eu preciso, dessa forma, alimentar o meu ego e dizer "olha, é o melhor presente que pude comprar para você", como se apenas a presença da pessoa já não fosse importante...
- E é falando em presença que entro na segunda razão de odiar Natal: família. Não, não odeio família, a questão é que não tenho convivência em família numerosa, com primos, tios, sobrinhos e etc., como acredito que grande parte de vocês têm. Meus parentes dificilmente saíam das casas deles, situadas a 200 km da minha cidade de nascimento, para me visitar independentemente da época. Posso contar nos dedos quais deles vieram quantas vezes aqui - e, em contraponto, a gente ia mais vezes vê-los do que eles iam nos ver. A balança acabava desequilibrada. Com isso, posso dizer com segurança que não tenho uma convivência familiar tal qual aqui estabelecida - tive, durante infância e adolescência, ausência de primos e tios. Ausência no sentido macro, de não poder contar com eles assim, rápido, como se fossem vizinhos ou integrantes da sua comunidade, do seu lote, do seu bairro. E Natal, geralmente, é coisa de família grande. Vejo as pessoas fazendo mil e um malabarismos para estar perto dos entes queridos nessa época... E eu fico indiferente a isso. Não me movo e não moverei para isso.
Por mim, poderíamos passar direto para o Ano Novo. Porque Réveillon, sim, é festa. É virada de mesa. É felicidade coletiva. É catarse coletiva. Natal, para mim, é algo tão sem graça que eu facilmente vivo sem. Não preciso de presente, não preciso de participar de amigos ocultos - participo mais por consideração aos amigos queridos que os articulam, mas não sinto nenhuma vontade de eu mesmo puxar algum -, não quero lembrar que essa data existe. Não quero. Já me basta toda a deturpação pela qual a data passou, não me obrigue a curtir algo que não quero. Se você gosta de Natal, fique à vontade para (de uma maneira verdadeira ou beirando à falsidade) postar as fotos da ceia, de você com seus "parentes queridos", com os "amigos queridos", com os "namorados queridos", com os "queridos" que você vive xingando e amolando durante o ano, mas não no Natal. Porque Natal é "amor", é "perdão", é "perdoar o que se fez durante o ano", é "rever os queridos", é "abraçar a todos". É, é sim. Eu sei que é. Tanto sei que não acredito nesse sentimentalismo todo. Pode me chamar de rude, de grosso, de insensível. Foda-se o que você acha, estou apenas sendo sincero.
Natal, para mim, é o ápice da hipocrisia à qual qualquer ser humano pode chegar.
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