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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Faz-me rir

Sabem... Andei pensando um pouco sobre uma discussão que há muito assombra o imaginário televisivo brasileiro: a questão do humor e suas variações.

Meu primeiro programa de humor favorito (desses que eu assistia todos os episódios) foi – e é até hoje – o Chaves, do SBT. Um humor que fazia você rir sem querer querendo. Bobo, fraco para alguns, mas que ainda conquista fãs e admiradores - seus personagens são fonte de inspiração para muitos de nós. Seu Madruga mesmo, que inclusive é nome de banda aqui em BH.

Com o tempo caminhando, fui tomando gosto pelo Casseta e Planeta (que hoje está mais fraco que barbante puído por cupim), pela A Praça É Nossa (laiá laiá...) e pelo Zorra Total. Você pode exclamar até um CREDO! por causa deste último. Mas isso é coisa de guri de 12 ou 13 anos.

Em 2003 ou 2005 (se não me falha a memória), comecei a assistir o Pânico. Já ouvia falar dos caras, de vez em quando punha na Jovem Pan pra ouvir, mas nunca tinha tido oportunidade para assistir o Pânico na TV por um simples motivo: eu frequentava o Protestantismo na época, e os cultos eram no mesmo horário do programa – 19 horas. Teve também um motivo pessoal para que eu não acompanhasse o programa desde o início: o receio do que meus pais poderiam pensar de eu ver um programa “ao nível do” Pânico. Imaginações e confabulações de um pobre menor com seus 16 ou 17 anos. Hoje, minha mãe é fã dos caras.

Comecei a ver o Pânico por causa, além da curiosidade inerente a mim, por causa da polêmica com o Vitor Fasano. (Mais info aqui.) Fiquei sabendo do acontecido via uma rádio daqui de Belo Horizonte, e fiquei na pilha para ver se, no domingo seguinte, eu veria cenas do murro do “ator” no Vesgo. Que o Fasano não tenha gostado da piada, isso é uma coisa – agredir é outra completamente diferente, né não, Netinho de Paula? E ali vi o nível das piadas. O nível que me atendia, que me satisfazia, que há muito tempo eu não via na televisão (a última tentativa ousada até então foi o Marcos Mion comandando o “Descontrole” na BAND; saudades do MONTINHÔÔÔÔ!) e que eu sentia falta. O padrão global da Zorra já era muito aquém pro meu gosto de humor.

E o Pânico me conquistava à medida que o tempo avançava. Recentemente, perdeu dois dos seus melhores integrantes (o Gluglu e o Mendigo, o Vinícius e o Carlinhos) para a emissora do Edir Macedo. Pensei que o programa poderia perder seu propósito, sua meta; mas qual foi a surpresa com a manutenção do padrão mesmo com a saída dos dois... Tio Emílio Zurita não ficou na mão – sem trocadilhos.

Só que, em 17 de março de 2008, estreava na Rede Bandeirantes uma nova atração. O “Caiga Quien Caiga”, um dos programas de grande sucesso da Argentina, chegava en tierras brasileñas sob o comando do adorado e temido Professor Tibúrcio, vulgo Marcelo Tas. (Vai me dizer que, à época de Rá-Tim-Bum, você não tinha medo daquela personagem gorda que aparecia do nada num cenário vazio e ainda dizia, medonhamente: “Olááá, crianças!”; mas era tão medonho que era divertido!) O CQC chegava, e eu me fascinava com aquele novo tipo de humor, jornalisticamente incorreto para alguns.

Sim, era um programa de jornalismo (é, diga-se de passagem) com toques de humor, ironia e sarcasmo. Quem que não se delicia ao ver o repórter inexperiente Danilo Gentili entrevistando Gretchen, Marcelinho Carioca ou (a minha entrevista favorita) o Padre Marcelo Rossi? O que dizer então da magnífica forma com a qual Rafinha Bastos conduz o Proteste Já? Eu acredito que muito jornalista gostaria de fazer do jeito que ele faz – porque tem hora que nós, jornalistas (ou cozinheiros, "cê ki sabe"), ficamos com o sapo entalado na garganta e não podemos fazer questionamentos mais profundos seja por questão de tempo da matéria, seja pelo direcionamento editorial da empresa na qual se trabalha. O humor estava conjugado com o jornalismo.

No ano passado, não assisti a apenas cinco de todos os CQCs que tivemos ano passado – tal era a minha vontade de ver e aprender mais com os caras. Só que, na faculdade onde estudei, a minha querida Universidade Federal de Minas Gerais (a UFMG), uma polêmica vinha à tona: o que é mais legal, CQC ou Pânico? Eu tinha um pouco de preguiça desse tipo de conversa – até pelo fato de o CQC ser mais universitariamente aceito e correto porque é o Tas no comando. E o Pânico é taxado como de humor inferior, de mau gosto etc.

Não faço aqui uma defesa do Pânico diante o CQC; o que quero dizer é que ambos os programas são deveras importantes para mim; justamente o fato de um não ter nada a ver com o outro. São dois humores distintos, cada um com o seu defeito. O Pânico bem que podia pegar um pouco mais leve, não exagerar em algumas atitudes (como o “Dicas com Marcos Chiesa”; coitado do Bola...); assim como o “Custe o Que Custar” precisa ser menos “Ponte Aérea Rio-São Paulo-Brasília” e tentar ver que existe um Brasil além dessas três cidades e estados. É, admito, a minha maior chateação com o CQC: o bairrismo.

Humores são humores, ironias também. Se na universidade o CQC é o “tchuki tchuki” dos estudantes e o Pânico é a ralé, essa comparação não deveria nem existir. Um pode aprender com o outro: o Pânico pode aprender a não ser muito escrachado demais e pegar na ironia e no sarcasmo moleque do CQC; e os homens de preto bem que poderiam absorver um pouco do Pânico para sempre se reformularem e nunca ficarem presos a um formato somente. Se não houver reciclagem nem de um e nem de outro, não há quem aguente. Televisão é igual sexo: quem não dá audiência perde para a concorrência.

E, se for para ter sempre mais do mesmo, eu fico com o Chaves – que, creio eu, é o tipo de humor que jamais se desgasta; os episódios se repetem, mas estamos nós lá, vidrados na telinha e sempre assistindo à ida da turma da vila a Acapulco. Não contavam com a astúcia do Bolaños!

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